O filme que tem nove nomeações para os Óscares marca mesmo a diferença: parece que nada vai sair dali, mas depois… Atenção a Martin McDonagh.
Numa ilha remota na costa oeste da Irlanda, encontramos os amigos de longa data Pádraic (Colin Farrell) e Colm (Brendan Gleeson).
Mas a relação de amizade passa a ser um impasse quando Colm, inesperadamente, põe fim à amizade deles. Porque não gosta mais do (ex-)amigo.
Um estupefacto Pádraic, amparado pela sua irmã Siobhán e pelo problemático jovem ilhéu Dominic, esforça-se para recuperar o relacionamento, recusando-se a aceitar um “não” como resposta.
Mas tantas tentativas de Pádraic deixam Colm ainda mais determinado em afastar-se. E depois… é ir ver o resto.
Esta é – mais ou menos – a sinopse de Os Espíritos de Inisherin, um filme que se estreou há uma semana em Portugal.
Não é por acaso que está nomeado para os Óscares em nove categorias. Só é superado por Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo.
O filme começa e podemos pensar: “Isto vai ser para dormir. Uma ilha, conversa de pub entre gente com pouca ou quase nenhuma cultura, sem conhecimento do mundo… Vai ser uma seca”.
Não é uma seca.
De uma forma incrível, o realizador e argumentista Martin McDonagh (o mesmo de Em Bruges e Três Cartazes à Beira da Estrada) consegue dar a volta ao filme e consegue transformar aparentes conversas vazias num filme cheio. Muito cheio.
Uma relação entre dois homens que nos deixa a pensar – quem sabe, nos transmite a sensação de espelho, com a frase “eu sei o que é isto”. Mas dá-nos a volta de uma forma surpreendente.
E, obviamente, a qualidade da interpretação só ajuda. Não só os principais (e multi-premiados) Colin Farrell e Brendan Gleeson, como a cativante Kerry Condon e o brilhante Barry Keoghan, entre outros. Todos irlandeses, diga-se. E os quatro estão nomeados para os Óscares.
Têm-se multiplicado os elogios a este filme. O mais recente é claro: “É um filme que consegue acertar em tudo e ainda ir mais além, tornando-se como um clássico quase que instantaneamente, e isso é bastante raro acontecer. Para já é, sem dúvida, o melhor filme deste ano”.
É uma análise publicada (e aprovada) no portal Cinema em Portugal, que realça a “introspecção que fazemos sobre nós mesmos e sobre a sociedade e a forma como o ser humano se socializa e evolui, é tão bem construída que é impossível não nos comovermos”.
Tudo encaixa. O espectador envolve-se no filme, fica mergulhado naquele argumento. Tudo é coeso, tudo tem um propósito.
E depois o elogio a algo fundamental, a peça-chave: “O argumento, aparentemente simples, contém em si várias camadas que vão sendo desconstruídas ao longo do filme, sendo que no final há caminho para seguir, e o público é como que ‘convidado’ a dar o seu contributo e a pensar naqueles assuntos, ou não”.
O futuro (ou já actual?) clássico do cinema só podia merecer uma classificação: 5 estrelas, pelo crítico André Marques.