“Espiral de autodestruição”. Em 2030, o mundo vai sofrer 1,5 desastres naturais todos os dias

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LPhot Paul Halliwell / British Ministry of Defence / EPA

O furacão Dorian deixou um rasto de destruição nas Bahamas em 2019

A ONU alerta para a frequência e a gravidade cada vez maiores dos desastres naturais causados pelas alterações climáticas e deixa avisos sobre a falta de preparação financeira para o futuro negro que nos espera.

Um relatório das Nações Unidas vem novamente lançar um alerta sobre o impacto da acção humana no ambiente.

Elaborado pelo Departamento da ONU para a Redução de Riscos e Desastres (UNDRR), o documento relata o grande aumento da frequência das catástrofes naturais nos últimos anos.

Se entre 1970 e 2000, o mundo registou uma média entre 90 e 100 desastres naturais por ano, o valor disparou para entre 350 e 500 médias a grandes catástrofes por ano de 2001 até 2020.

Os eventos tidos em conta vão de incêndios a cheias e também abrangem epidemias e acidentes químicos — e a ONU avisa que a sua frequência pode subir para 560 por ano até 2030, o que se traduz numa média de 1,5 desastres por dia, devido ao agravamento das alterações climáticas.

Até 2030, as catástrofes ligadas às temperaturas podem tornar-se três vezes mais comuns. Para além de se tornarem mais frequentes, os desastres são também mais graves. A subida das temperaturas, por exemplo, leva a épocas de incêndio e ondas de calor mais perigosas.

“Em mais nenhum ponto da história moderna teve a Humanidade de enfrentar um leque de riscos e perigos familiares e desconhecidos, a interagir num mundo hiperligado e em rápida mudança”, aponta o documento.

O relatório avisa ainda para a falta de preparação dos Governos para o que está para vir. “O mundo precisa fazer mais para incorporar o risco de desastres à maneira como vivemos, construímos e investimos”, afirmou Amina J. Mohammed, secretária-geral adjunta da ONU, que acredita que estamos a entrar numa “espiral de autodestruição”.

Nos últimos 10 anos, as catástrofes naturais custaram ao mundo 160 mil milhões de euros anualmente. E apesar de não serem os principais culpados pelas alterações climáticas, os países mais pobres foram o que mais sofreram as suas consequências, o que agrava ainda mais a sua situação económica já de si precária.

Todos os anos, os países em desenvolvimento gastam à volta de 1% do seu PIB na gestão de um desastre natural. Já os países ricos apenas despendem entre 0,1% e 0,2% do PIB neste sentido e esta assimetria deve continuar, de acordo com a ONU.

A região do mundo mais prejudicada é a Ásia-Pacífico, com os países a terem de perder 1,3% do seu PIB anualmente na resposta a catástrofes. Segue-se o continente africano, cujo PIB sofre, em média, 0,6% todos os anos.

Para além de terem estruturas e construções mais frágeis e susceptíveis a estes desastres, há também menos cobertura com seguros nos países mais pobres, o que os deixa ainda mais vulneráveis. Desde 1989, apenas 40% da destruição e das perdas causadas por desastres naturais nas nações menos desenvolvidas estavam cobertas por um seguro.

Há ainda uma grande discrepância entre o dinheiro gasto na resposta aos desastres e na sua prevenção. Entre 2010 e 2019, foram investidos 5,2 milhões de euros na prevenção das catástrofes e o dinheiro gasto nos esforços de recuperação chegou aos 7.3 mil milhões. Já a despesa nas respostas de emergência supera todos estes valores com uma enorme diferença — 113 mil milhões de euros.

Adriana Peixoto, ZAP //

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