A pesquisa vem no seguimento de uma semelhante em 2019 que mostra que quando é colocada uma marca nos peixes, os animais mexem nela quando a vêem ao espelho.
Um novo estudo publicado na PLOS Biology concluiu (outra vez) que os peixes são auto-conscientes e que se identificam quando se vêem ao espelho, nota o Phys.
Para além dos chimpanzés, as provas de que mais algum animal tinha esta capacidade ainda eram inconclusivas, apesar de um estudo anterior já ter indicado que os peixes também tocavam uma marca colocada no seu corpo num local onde apenas a poderiam ver num espelho.
A mesma equipa decidiu repetir o estudo para provar de vez que os peixes se identificam ao verem-se ao espelho. “Anteriormente, usando uma marca castanha na área da garganta do L. dimidiatus, mostramos que três de quatro peixes-limpadores arranharam as suas gargantas várias vezes depois de nadarem em frente a um espelho, um número comparável ao de estudos semelhantes feitos com outros animais, como elefantes, golfinhos e pegas”, revela Masanori Kohda, líder do estudo.
Na altura, uma das críticas feitas à pesquisa era a amostra pequena e a necessidade de mais estudos que comprovem que estes resultados não eram uma coincidência. Desta vez, a amostra aumentou para 18 peixes, com um resultado positivo de 94%, tendo 17 também mostrado que têm consciência do seu reflexo no espelho.
A escolha de uma marca castanha não foi por acaso, já que a cor se assemelha a um parasita, que é a principal fonte de comida dos peixes-limpadores. “Depois de olharmos para estudos semelhantes em macacos ou porcos que não resultaram, ponderamos se a razão pela qual os animais não se interessaram pela marca foi porque não parecia alguma coisa pela qual se deviam interessar”, nota Kohda.
No entanto, surge ainda uma questão — como podemos ter a certeza de que os peixes estão a tocar na marca por a terem visto ao espelho e não porque a estão a sentir? Para contornar isto, a equipa testou com os peixes respondiam a um estímulo físico ao injectarem uma marca castanha a 3 milímetros mais abaixo na garganta, em vez de apenas a um milímetro.
Desta forma, a marca torna-se practicamente invisível e pode observar-se se os peixes a continuam a tocar mesmo sem a conseguirem ver. A equipa reparou que a os peixes com esta injecção mais abaixo arranharam a garganta da mesma forma, independentemente da presença ou não de um espelho, o que indica que o estavam a fazer devido à irritação causada.
Mesmo assim, os peixes com a injecção mais acima apenas tocaram na garganta quando estavam à frente de um espelho, o que sugere que nestes casos, foi a pista visual que provocou este comportamento. Os peixes com marcas verdes ou azuis também não tocaram nas suas gargantas.
Há ainda a dúvida sobre se os peixes se reconhecem ao espelho ou se pensam apenas que estão a ver a imagem de outro peixe. Geralmente, os animais que encaram o seu reflexo como outro animal agem primeiro de forma agressiva, depois mostram-se surpreendidos e, por fim, olham para o seu próprio corpo para terem a certeza de que não estão a ver outro animal. Nesta fase, o auto-reconhecimento ao espelho é possível.
Para responder a esta questão, a equipa colocou os peixes num tanque com um espelho de um lado e, três dias depois, transferiu-os para um outro tanque com o espelho colocado do lado oposto. Os cientistas não notaram comportamentos agressivos em nenhum dos casos.
“Ainda temos muito trabalho a fazer, especialmente quantitativo, para provar que os peixes, assim como outros animais, têm a capacidade de se identificarem ao espelho. No entanto, como resultado deste estudo, repetimos a conclusão da pesquisa anterior de que a auto-consciência nos animais e a validade dos testes com espelhos têm de ser revistas”, remata Kohda.