Escrituras japonesas revelam “ensinamentos secretos” sobre o ritual de suicídio de samurais

Textos japoneses recentemente traduzidos contrariam a famosa ideia de que era frequente os samurais suicidarem-se ao apunhalar-se na barriga, com este ritual a ser raro durante a era Edo.

Pela primeira vez, foram traduzidos para inglês quatro textos históricos que detalham o ritual do seppuku – uma antiga forma de suicídio ritual japonês praticado por samurais.

Estes textos, escritos durante o período Edo do Japão (1603-1868), fornecem uma visão das complexas tradições e procedimentos que envolvem esta prática, desafiando alguns equívocos populares. Embora muitos acreditem que os samurais se suicidavam frequentemente esfaqueando-se no estômago, estas traduções revelam que isso raramente acontecia durante a era Edo.

O primeiro dos textos, intitulado The Inner Secrets of Seppuku e escrito por Mizushima Yukinari no século XVII, oferece uma explicação aprofundada da cerimónia. Nessa altura, o Japão estava sob o domínio dos shoguns, chefes militares descendentes de Tokugawa Ieyasu, que detinham o poder de facto sobre o país. O papel do imperador era em grande parte simbólico.

As traduções, completadas pelo especialista em artes marciais Eric Shahan, são apresentadas no seu livro Kaishaku: The Role of the Second (auto-publicado, 2024). O termo kaishaku refere-se ao assistente, frequentemente outro samurai, responsável pela decapitação do condenado. Estes textos destinavam-se a instruir o kaishaku na execução correta do ritual, sublinhando a importância de executar a decapitação com precisão para evitar a desgraça.

Um dos textos mais reveladores, As Tradições Secretas do Seppuku (1840), sublinha a importância da leitura dos sinais físicos da pessoa prestes a morrer. Adverte que não interpretar corretamente estes sinais devido a uma ligação emocional desonraria o carrasco e envergonharia a sua reputação marcial, explica o Live Science.

Embora a cerimónia variasse em função do grau hierárquico, incluía frequentemente a oferta de saqué ao condenado, seguida de uma faca ritual num prato. Embora alguns samurais possam ter-se apunhalado a si próprios com a faca, os textos indicam que o kaishaku os decapitava antes que pudessem infligir ferimentos fatais.

O período Edo registou um declínio na perícia dos samurais com as lâminas, em comparação com os tempos anteriores. Nos séculos anteriores, alguns samurais executavam uma versão mais elaborada do seppuku, cortando padrões intrincados no abdómen. No entanto, no período Edo, esta tradição tinha-se desvanecido.

A posição hierárquica desempenhava um papel importante na forma como a cerimónia era conduzida. Os samurais de alta patente tinham uma maior dignidade na morte, muitas vezes com o cabelo perfumado e a cabeça envolta em panos finos, enquanto os samurais de baixa patente recebiam um tratamento menos cerimonioso.

Esta nova tradução traz uma nova compreensão a um ritual há muito envolto em mitos, oferecendo descrições pormenorizadas da prática e da sua evolução ao longo do tempo. Os textos também destacam a forma como a cerimónia refletia os profundos valores culturais de honra e hierarquia que definiam a sociedade samurai.

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