Os cubanos acostumaram-se a conviver com a escassez. Sabonete, papel higiénico e até mesmo a cerveja nacional Cristal são alguns dos produtos básicos que, recentemente, desapareceram das prateleiras.
Os rumores dominam as buscas por explicações – a fábrica está contaminada, o Estado não pode pagar aos fornecedores – até que os produtos, silenciosamente, reaparecem.
Mas pelos menos sabia-se que havia sempre preservativos nas prateleiras. Até agora.
Um pacote com três preservativos, fortemente subsidiado pelo serviço público de saúde, custa normalmente um peso cubano (30 cêntimos).
Mas as pessoas procuram agora o produto na farmácia e não o encontram. O problema parece ser generalizado.
Há quase um mês, o jornal sindical Trabajadores noticiou a escassez de preservativos na província de Santiago de Cuba, no leste do país.
Farmácias e cafés estatais, os estabelecimentos que tradicionalmente vendem preservativos, estão há quase três meses sem os ter.
“A falta gera grande preocupação, pelo nível de infecção de doenças sexualmente transmissíveis e pela SIDA”, diz o jornal, ao informar que as contaminações estavam a aumentar.
O jornal Vanguardia, de Villa Clara, destacou também “as ausências perigosas”, citando a falta de preservativos.
Segundo o jornal, houve um ligeiro aumento de casos de sífilis na região neste ano.
A explicação oficial
Ao contrário de papel higiénico, sabão ou cerveja, neste caso há pelo menos uma explicação oficial para a escassez.
De acordo com a imprensa estatal, um grande carregamento de preservativos chineses “Momentos” chegou com data de validade de 2012.
No entanto, de acordo com o fabricante, os produtos eram, na verdade, válidos até 2014, o que foi confirmado pelos controladores de qualidade de Cuba.
Foi iniciada uma operação para corrigir a data de cada pacote – um processo lento e que é o responsável pela falta do produto nas prateleiras.
O que não foi explicado é por que se levou-se tanto tempo para iniciar o processo de correção das embalagens, se, como o Vanguardia disse, o erro foi detectado em 2012.
Agora, os problemas de abastecimento chegaram a Havana.
Numa reportagem da BBC no bairro central de Vedado, nenhuma das três farmácias ou dos três cafés estatais visitados tinha preservativos à venda.
Todos os estabelecimentos disseram que a falta já durava “há algum tempo”.
Educação sexual
A educação sexual nas escolas cubanas começa cedo, e os cubanos não têm vergonha de abordar o tema.
O fornecimento de preservativos em eventos públicos é bastante comum e os consultórios médicos estão cobertos de cartazes com mensagens de sexo seguro.
Portanto, há grande procura de preservativos.
“As campanhas de sensibilização sobre o VIH tiveram um grande impacto”, disse Yadira Alvarez, especialista do Centro de Educação Sexual (Cenesex), que diz que a escassez de preservativos é “um grande motivo de preocupação”.
“Até agora a situação é estável. Mas esta escassez gera alarme”.
Segundo a imprensa estatal, o Ministério da Saúde ordenou às farmácias que vendam os preservativos “Momentos” sem a mudança nas embalagens e que informem os clientes sobre o erro.
ZAP / BBC