Recente relatório acusa as autoridades britânicas de encobrimento no caso que afetou 30 mil pessoas e matou três mil no Reino Unido entre as décadas de 1970 e 1990.
O primeiro-ministro britânico Rishi Sunak pediu desculpa publicamente esta segunda-feira pelos erros governamentais associados ao escândalo do sangue contaminado no Reino Unido nas décadas de 1970 e 1990, que causou três mil mortos.
Também o líder da oposição, Keir Starmer, do Partido Trabalhista, reconheceu que os políticos falharam e prometeu colaborar com o Governo para acelerar o pagamento das indemnizações.
Os dois políticos prometeram ainda colaborar para compensar as vítimas, após a divulgação de um relatório sobre o caso que acusa as autoridades britânicas de encobrimento.
“Em nome deste e de todos os Governos que remontam à década de 1970, lamento profundamente”, disse Sunak, numa declaração no parlamento, esta segunda-feira.
Este é um pedido de desculpas do Estado — a todas as pessoas afetadas por este escândalo, disse em comunicado oficial no X. “Não tinha de ser assim. Não devia nunca ter sido assim.”
Prime Minister Rishi Sunak speaks directly to victims and their families on the infected blood scandal. pic.twitter.com/zrwTpSquYq
— UK Prime Minister (@10DowningStreet) May 20, 2024
O chefe do Governo britânico prometeu ainda que serão pagas indemnizações, cujo valor será noticiado esta terça-feira e pode ascender a 10 mil milhões de libras (11,7 mil milhões de euros, ao câmbio atual), de acordo com estimativas da BBC.
“Esse falhanço aplica-se a todos os partidos, incluindo o meu. Só há uma palavra: desculpa. E, com esse pedido de desculpas, reconheço que este sofrimento foi causado por irregularidades, atrasos e falhas sistémicas em toda a linha, agravados por instituições defensivas”, lamentou Starmer.
O escândalo do sangue contaminado
O escândalo do sangue infetado do Reino Unido, um dos maiores desastres médicos da história britânica, despoletou na década de 70 quando cerca de 4.000 doentes foram tragicamente infetados com VIH e hepatite C através de produtos sanguíneos contaminados.
Estes produtos eram frequentemente utilizados para tratar pessoas com hemofilia, uma doença genética que afeta a capacidade do organismo de produzir coágulos sanguíneos para parar as hemorragias.
Durante vinte anos, cerca de 30 mil pessoas que sofriam de hemofilia ou que tinham sido submetidas a intervenções cirúrgicas foram contaminadas através de transfusões de sangue.
A maior parte do sangue contaminado provinha dos Estados Unidos, onde os dadores de plasma, incluindo reclusos, eram pagos pelas suas doações, aumentando o risco de infeções transmitidas pelo sangue.
A falta de um rastreio rigoroso dos dadores e a inadequação dos processos de inativação viral agravaram ainda mais a situação. O escândalo veio a lume no final da década de 1980 e no início da década de 1990, quando as pessoas afetadas começaram a apresentar sintomas das doenças.
O que diz o novo relatório?
Em mais de 2.500 páginas e sete anos de trabalho, milhares de testemunhas e dezenas de milhares de documentos foram revisitados. Concluiu-se que a tragédia foi “ocultada durante décadas” e que o escândalo “poderia ter sido evitado em grande parte”.
“Este desastre não foi um acidente. As contaminações ocorreram porque os responsáveis – médicos, serviços de sangue e sucessivos Governos – não puseram a segurança dos doentes em primeiro lugar”, vincou o juiz Brian Langstaff.
ZAP // Lusa
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