O erro de cálculo de Putin sobre a fronteira com a Finlândia

EPA / GAVRIIL GRIGOROV / SPUTNIK / KREMLIN

Vladimir Putin

Putin ameaçou enviar tropas para a fronteira com a Finlândia em resposta à sua adesão à NATO, mas os analistas duvidam da sua capacidade de desviar tropas da Ucrânia para intimidar os vizinhos nórdicos.

Como retaliação à entrada da Finlândia na NATO — que era temida há anos pela Rússia — Vladimir Putin ameaçou reposicionar tropas ao longo da extensa fronteira que partilha com o país nórdico.

Depois de várias décadas de laços estreitos entre Helsínquia e Moscovo, a Finlândia tem-se aproximado do ocidente nos últimos anos e o Presidente russo comparou a adesão à NATO à traição de a um “parceiro abusivo“.

Mas Putin parece ter errado nas contas quando ameaçou enviar tropas para a fronteira com a Finlândia. Vários analistas lançam dúvidas sobre a capacidade da Rússia de seguir em frente com esta ameaça devido aos desafios logísticos, financeiros e estratégicos de montar tal presença militar no terreno difícil da fronteira finlandesa, aponta o Politico.

“Os russos não terão os recursos para construir infraestruturas, produzir novo armamento pesado e recrutar um número considerável de forças para a nossa fronteira antes da década de 2030”, aponta Pekka Toveri, antigo major-general finlandês, lembrando que o conflito prolongado na Ucrânia limita severamente a capacidade da Rússia de colocar tropas ao longo da fronteira finlandesa.

A tensão sobre os recursos militares russos é palpável. O redirecionamento de tropas estacionadas perto da Finlândia para a frente ucraniana deixou unidades como a 138ª Brigada Motorizada de Guardas Separados significativamente esgotadas.

“A Finlândia é um ambiente operacional muito exigente, como os soviéticos aprenderam durante a Segunda Guerra Mundial. Os soviéticos chamavam a isso ‘operações em áreas de florestas pantanosas’ e exigiam treinos e equipamentos especiais que eles não possuem”, refere ainda Toveri.

A dependência da Rússia nas forças paramilitares do Grupo Wagner e o recrutamento controverso de presidiários para o combate atestam ainda mais os desafios enfrentados pelo aparelho militar russo após mais de dois anos de guerra na Ucrânia.

A ambição de Putin de expandir as forças armadas russas também levanta questões sobre a viabilidade de tais planos. O chefe de Estado russo, que afirmou no final de 2023 que o país tinha enviado 617 mil soldados para a Ucrânia, quer expandir as actuais forças de 1,15 milhões para 1,5 milhões até 2026.

Perante estes desenvolvimentos, a resposta da Finlândia foi medida, refletindo uma confiança reforçada pela adesão à NATO e uma consciência das capacidades militares sobrecarregadas da Rússia. A situação, contudo, é um lembrete austero das tensões subjacentes nas relações Rússia-NATO e da fragilidade da paz actual.

Adriana Peixoto, ZAP //

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