Enguia-fantasma avistada em Portugal pela primeira vez

Com mais de um metro de comprimento, o predador noturno que ao início “parecia lixo” não tinha sido avistado antes no Atlântico. Agora, apareceu em águas nacionais. Quem é esta “fita branca” e o que faz em Portugal?

Durante um mergulho noturno em Porto Covo, um cientista do MARE-Coimbra avistou — e filmou — uma Pseudechidna brummeri, espécie de enguia do indo-pacífico mais conhecida por “enguia-fantasma”, revela o Centro de Ciências do Mar e do Ambiente (MARE) em comunicado.

Com mais de um metro de comprimento, o predador noturno que ao início “parecia lixo” não tinha sido avistado antes no Atlântico e agora apareceu em águas nacionais, a uma profundidade de 1 a 2 metros, junto ao porto de pesca de Porto Covo.

O avistamento da espécie, pela primeira vez e tão longe do seu local de origem, intrigou os cientistas que agora se questionam sobre a forma como ali chegou. Para validar a descoberta, escreveram um artigo científico que submeteram à revista científica Marine Pollution Bulletin, que já foi confirmado por pares independentes.

Quem é esta “fita branca”?

Conhecida como moreia de Brummer, enguia de fita branca ou enguia fantasma, a enguia do indo-pacífico é uma espécie bastante comum em locais como o Pacífico Ocidental, o Oceano Índico e o Oceano Índico Ocidental — locais muito distantes do local onde agora foi encontrada pela primeira vez.

A espécie tem a particularidade de se enrolar de um modo muito específico, como um pedaço de papel. Tem mais de um metro de comprimento e apresenta uma coloração creme que lhe permite esconder-se sob a areia dos fundos e atacar as presas, normalmente pequenos peixes e crustáceos. É uma espécie de hábitos noturnos e tende a ser solitária.

A espécie é comummente comercializada na Europa para aquários decorativos.

Como chegou a Portugal? É invasora?

Os cientistas desconhecem as razões para o aparecimento desta espécie em águas atlânticas e nacionais, mas admitem como hipótese que tenha viajado na água de lastro de algum navio que tenha aportado em Sines.

“Provavelmente há alguns anos, pois a espécie é de crescimento lento”, adiantou Sónia Seixas, do MARE.

Outra das hipóteses é esta enguia “ter sido introduzida na natureza a partir de aquários marinhos caseiros de água salgada em virtude da espécie ser comercializada como ornamental para a aquariofilia”.

Os investigadores do MARE ponderam a necessidade de lançar uma campanha de monitorização, caso não seja um indivíduo único.

Caso tenha potencial para se tornar uma espécie invasora, e dado o seu perfil predador, terá, certamente impacto no ecossistema da região, estando por isso também a ser estudadas medidas de prevenção do aparecimento de outros exemplares.

“Queremos monitorizar esta zona de modo a perceber o que se passa, mas para isso vamos tentar obter financiamento que nos permita executar o trabalho”, disse a investigadora Sónia Seixas.

“Sendo proveniente do indo-pacífico, esta espécie traz-nos grandes apreensões pois sabemos o que algumas espécies que foram introduzidas são nefastas para o ambiente. No entanto, e sendo a espécie ativa de noite, não nos parece que seja um problema para os banhistas nas praias”, conclui a investigadora do MARE.

ZAP // Lusa

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