Empresas armazenam o histórico da próxima geração de portugueses

Thomas Hawk / Flickr

-

Os cidadãos estão a pagar com a sua privacidade supostos serviços gratuitos na Internet, alertou hoje um especialista em cibersegurança, prevendo que várias empresas venham a ter todo o histórico da futura geração de portugueses.

“O que me choca é que na próxima geração, haverá empresas que têm disponível um conjunto enorme de informação sobre o comportamento [das pessoas] online desde crianças”, alertou Luís Filipe Antunes, acrescentando que há grandes grupos económicos com negócios nas áreas da saúde, seguros, banca e outros que estão a recolher e a cruzar esses dados.

Luís Filipe Antunes, que é perito do Centro de Competências em Cibersegurança e Privacidade da Universidade do Porto, falava hoje aos jornalistas em Lisboa à margem de mais uma edição do Fórum para a Sociedade de Informação, num painel sobre vigilância e privacidade.

Para o especialista “a Internet não é um sítio seguro” e é preciso que as pessoas tomem consciência de quão vulneráveis estão online.

“Só depois de as pessoas perceberem que estão vulneráveis é que haverá um movimento para mudar as coisas”, disse.

“Se as pessoas não souberem o que se está a passar não é um problema e vivem calmamente com isso”, acrescentou.

Como exemplo dessa vulnerabilidade, Luís Filipe Antunes apontou o exemplo de alguém que vai ao médico e recebe um diagnóstico de determinada doença. Se fizer uma pesquisa online, começa automaticamente a receber anúncios de medicamentos e serviços relacionados com essa doença.

“Não me custa nada acreditar que a Google possa ter neste momento informação de saúde dos portugueses, o que é assustador”, disse.

Por isso, o centro tem desenvolvido projetos que mostram às pessoas a sua vulnerabilidade na Internet, nomeadamente através de demonstrações de controlo remoto de computadores e telemóveis.

Luís Filipe Antunes alerta ainda que as pessoas estão a pagar um “preço altíssimo” por usarem serviços ou aplicações online supostamente gratuitas que entram nas contas da Internet e permitem a várias empresas aceder aos dados pessoais

Por cada pesquisa, num determinado site há mais de uma dezena de outros sites, nomeadamente o motor de busca Google, que têm acesso aos dados dessa pesquisa, explicou.

Para responder a estas vulnerabilidades, o Centro de Cibersegurança desenvolveu em parceria com a Comissão Nacional de Proteção de Dados (CNPD) um conjunto de aplicações que asseguram os níveis máximos de privacidade e segurança e que podem ser descarregadas gratuitamente da Internet.

O especialista defendeu ainda “o direito ao esquecimento total” na Internet, recentemente reconhecido pelo Tribunal de Justiça da União Europeia, que prevê que os utilizadores podem exigir a motores de busca como o Google que apaguem os dados que têm em seu poder sobre determinada pessoa.

“Hoje a juventude usa muito a Internet e devia ser um direito fundamental deles poderem pedir que os esqueçam, que apaguem o passado deles”, disse.

O painel em que Luís Filipe Antunes participou tinha como tema a vigilância e a privacidade do ponto de vista dos governos, mas o especialista considera que, no caso português, os maiores receios de violação da privacidade dos cidadãos vêm das empresas privadas mais do que do governo.

/Lusa

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.