Uma empregada de limpeza portuguesa foi arrastada involuntariamente para um debate sobre o uso de mão de obra estrangeira no Reino Unido, após um discurso crítico do secretário de Estado da Imigração, James Brokenshire.
O secretário de Estado das Finanças, Danny Alexander, confessou no sábado, numa entrevista à rádio BBC 4, empregar uma portuguesa ocasionalmente para a sua residência, retorquindo: “Chegámos a situação infeliz em que temos de responder a este tipo de perguntas, porque são baseadas na suposição de que uma empresa ou indivíduo que empregue alguém de outro país europeu está a fazer algo errado”.
O político liberal democrata foi confrontado após um colega do governo de coligação com o partido Conservador, o secretário de Estado da Imigração, James Brokenshire, ter criticado patrões e a classe média do seu país por contribuir para o desemprego dos britânicos.
“Há muito tempo que a imigração beneficia os empregadores que querem um abastecimento de mão de obra barata ou a elite metropolitana abastada que quer empregados e serviços baratos – mas não [beneficia] as pessoas normais e trabalhadores deste país”, afirmou o conservador num discurso na quinta-feira.
“Tiro no pé”
As afirmações fizeram ricochete, porque imediatamente vários dos principais membros do governo foram questionados para ser se sobre encaixavam neste retrato: a ministra do Interior, Theresa May, admitiu usar uma empregada de limpeza brasileira nacionalizada britânica e o vice primeiro-ministro, Nick Clegg, uma ajudante doméstica belga.
Já o primeiro-ministro, David Cameron, disse usar uma ama nepalesa recentemente nacionalizada britânica, cujo processo o seu gabinete garantiu não ter influenciado pelo chefe de governo.
O incidente foi considerado um “tiro no pé” por vários comentadores na imprensa britânica, incluindo a revista The Week, que afirma hoje no seu site que discurso resultou numa espécie de novo “McCartismo”, uma referência à caça aos comunistas nos EUA dos anos 1950.
Já o Instituto de Diretores, que representa os diretores de empresas britânicas, considerou “fraco e patético” o discurso sobre a imigração do novo secretário de Estado, alertando que a economia britânicas precisa de trabalhadores imigrantes.
“Este discurso parece ser mais sobre posicionamento político e menos sobre o que é bom para o país”, afirmou num comunicado.
Números oficiais das inscrições na Segurança Social divulgados no final de fevereiro indicaram que mais de 30 mil portugueses chegaram ao Reino Unido em 2013 para trabalhar, um aumento de quase 50% face ao ano anterior.
/Lusa