
As inconfundíveis Mulberry Harbours, usadas na Segunda Guerra Mundial, que inspiram os novos navios chineses
Um desembarque estilo Normandia em 2027? Os especialistas começam a ficar (muito) preocupados com a frota marítima Chinesa — nunca se viu nada assim. Olhos postos em Taiwan.
Os sistemas tecnológicos navais adotados pela China não param de surpreender. Em 2021, a CCTV exibia os recentes ferries RO-RO, que permitiam “a utilização em grande escala de unidades completas em terra e no mar com descarga e carregamento imediatos”.
Nessas embarcações, cabem largar filas de tanques de guerra, por exemplo, como mostravam as imagens partilhadas pelo canal chinês. Os navios RO-RO depressa passaram a ser usados por todo o mundo.
Mas J. Michael Dahm, analista de defesa, explica à CNN que “estas barcaças podem melhorar significativamente a capacidade do ELP (Exército Popular de Libertação chinês) de fornecer logística após uma invasão”.
Refere-se ao Taiwan, país que está sob ameaça de invasão chinesa e que os EUA acreditam que possa ser ocupado pelos chineses em 2027.
“No contexto de todas as outras melhorias que estamos a ver nas capacidades do ELP e, especialmente, nas infraestruturas do ELP, as barcaças são apenas o objeto brilhante que chama a atenção para o facto de o ELP estar a fazer estes preparativos para estar pronto para agir de acordo com as ordens de Xi Jinping nos próximos anos, se for chamado a fazê-lo”, diz o analista.
Recentemente, a China desenvolveu ainda, barcos gigantes com rampas que, de acordo com os especialistas, são ideais para invadir Taiwan, uma vez que são semelhantes às Mulberry Harbors britânicas, construídas para… a invasão da Normandia pelos Aliados.
“Têm seis ou oito pés hidráulicos que as podem levantar da água para criar uma plataforma estável, e depois podem criar uma ponte desde águas pouco profundas para uma área mais profunda”, descreve Su Tzu-yun, diretor do Instituto de Investigação de Segurança da Defesa Nacional em Taiwan.
“Não há nada como elas no Ocidente. Nunca vi nada como o que estamos a ver aqui”, diz o analista Thomas Shugart.
Mas há quem acredite que estas tecnologias não foram criadas para confrontos intensos em alto mar. É o caso de Collin Koh, investigador da Escola de Estudos Internacionais S. Rajaratnam (RSIS). “São lentas, não estão tão bem protegidas por si só e precisam de escoltas, que devem andar à mesma velocidade que as barcaças. E para alguns dos meios de guerra, a velocidade é essencial”, explica.
Entretanto, um conjunto de cientistas chineses alega também ter criado um novo dispositivo capaz de cortar cabos submarinos a grande profundidade (até 4 mil metros). Esta é a primeira vez que um país revela oficialmente que possui um ativo deste tipo, capaz de interromper redes submarinas críticas.
“O que é alarmante aqui é o contexto político que lhe está associado“, conta Collin Koh.
Em caso de um corte de cabos submarino taiwaneses, a China pode bloquear o acesso da ilha asiática à ajuda externa, nomeadamente dos EUA.
E os testes de estratégias militares podem já estar a acontecer: a 21 de março, as imagens de satélite da Maxar Technologies mostravam que as barcaças chinesas se tinham deslocado cerca de 15 quilómetros para sul ao longo da costa, e ferries RO-RO a irem ao seu encontro.
De acordo com os analistas, os chineses podem estar a testar a interação entre os dois tipos de embarcação, o que permitiria transferência rápida de um grande número de veículos com rodas. O desenlace? Ninguém sabe, mas os analistas mantém os olhos bem abertos no que diz respeito a Taiwan.