Eleições em Espanha: Pedro Sánchez pediu “só hoje um último esforço” para travar extrema-direita

Juanjo Martin / EPA

O primeiro-ministro de Espanha, Pedro Sánchez, e o líder do Partido Popular, Alberto Núnez Feijóo,

É dia de eleições legislativas, em Espanha. As últimas sondagens deram a vitória da direita e a derrota do atual primeiro-ministro, o socialista Pedro Sánchez.

Estas são as XVI eleições gerais em Espanha desde o fim da ditadura, em 1977.

Estão chamados a votar 37.469.142 eleitores, para escolherem 350 deputados e 208 senadores.

As eleições só estavam previstas para dezembro, no final da legislatura, mas foram antecipadas por Pedro Sánchez, o atual primeiro-ministro, na sequência da derrota da esquerda nas municipais e regionais de 28 de maio.

Há dezenas de listas candidatas, muitas de partidos de âmbito regional e local, num espelho da diversidade de Espanha.

No entanto, só quatro partidos apresentaram listas de âmbito nacional e têm pretensão de chegar ao Governo: Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), Partido Popular (PP, direita), Somar (extrema-esquerda) e VOX (extrema-direita).

O Governo atual é uma coligação do PSOE com a plataforma de extrema-esquerda Unidas Podemos, constituída por partidos que agora se juntaram a uma nova ‘marca’, o Somar, que integra 15 formações e é considerada a maior aliança de esquerda que já houve em Espanha.

A lei espanhola proíbe a publicação de sondagens nos cinco dias anteriores às eleições, pelo que os últimos estudos conhecidos são de segunda-feira.

Todas as sondagens publicadas nesse dia confirmavam, com uma única exceção em dezenas de estudos, a vitória do PP e colocavam à beira da maioria absoluta o conjunto da direita e da extrema-direita.

As últimas sondagens davam a vitória ao PP, mas sem maioria absoluta, colocavam o PSOE como segunda força mais votada, mas dividiam-se em relação ao terceiro lugar, que pode ficar com o VOX ou com o Somar.

As sondagens coincidiam também em que o VOX terá este ano menos deputados do que os 52 que conseguiu nas eleições anteriores, em 2019, mas o resultado do partido de extrema-direita poderá agora ser decisivo, se tiver possibilidade de formar uma maioria absoluta no parlamento com a bancada do PP e, assim, vir a entrar no Governo ou evitar uma ‘geringonça’ entre partidos de esquerda e regionais.

As alianças do PP e do PSOE para chegarem ou se manterem no poder foram o tema que dominou a campanha eleitoral.

A esquerda fez da ameaça da entrada da extrema-direita no Governo de Espanha, aliada ao PP, como acontece em três executivos autonómicos, a mensagem central da sua campanha, considerando que há risco de retrocessos em direitos e liberdades e nas políticas ambientais.

Já PP e VOX sublinharam a coligação dos socialistas, na última legislatura, com a extrema-esquerda, a que se referem como “os comunistas”, e os acordos parlamentares com partidos independentistas da Catalunha e do País Basco, naquilo que consideram ser uma ameaça à integridade de Espanha.

Em desvantagem nas sondagens e no rescaldo da derrota eleitoral de maio, Sánchez propôs ao líder da oposição, Feijóo, seis debates entre os dois, em canais de televisão, durante a pré-campanha e a campanha eleitoral.

Feijóo aceitou apenas um. Por ter sido único e pela aproximação entre os dois partidos nas sondagens, foi considerado um dos momentos chave da campanha eleitoral.

Em maio, o PP de Feijóo venceu claramente as eleições regionais, com resultados que foram considerados um “tsunami” para o PSOE e a abertura de um “novo ciclo político” em Espanha.

O PP ficou a governar oito das 12 regiões que foram a votos, a que se juntam Andaluzia e Castela e Leão, que anteciparam para 2022 as eleições e que o Partido Popular também ganhou. Antes destas eleições, o PP só governava duas das regiões que foram a votos.

Nas eleições municipais, que se celebraram em todo o país, o PP foi também o partido mais votado e conquistou à esquerda grandes cidades, como Sevilha e Valência, além de ter tido uma maioria absoluta em Madrid.

Os resultados das municipais e das regionais refletem uma mudança em relação às eleições anteriores, de 2019, em que o PSOE tinha sido o partido globalmente mais votado e com mais vitórias nas regionais. Esta foi também considerada a primeira vitória eleitoral do PP em Espanha desde 2015.

“Último esforço para travar a extrema-direita”

Sexta-feira, que antecedeu o dia da reflexão, Pedro Sánchez pediu aos espanhóis para irem votar, num “último esforço” para “travar a direita e a extrema-direita”, no país.

“Há muitos argumentos para termos mais quatro anos de avanços e de governo progressista. Por isso, o que vos posso pedir é que façamos um último esforço e dizer àqueles que estão indecisos, sobretudo, os que estão indecisos entre ir ou não votar, que é um dia só e [depois] quatro anos de avanço e travamos o retrocesso“, afirmou.

No entanto, Pedro Sánchez mostrou-se confiante e disse que “o avanço socialista é imparável”, que o PSOE vai ser o partido mais votado e que a plataforma de extrema-esquerda Somar, da ministra do Trabalho, será a terceira força, pelo que será reeditada a coligação atualmente no executivo e “vai haver mais quatro anos de governo progressista”.

“Caímos e levantámo-nos”, afirmou o líder do PSOE, que disse que o partido fez uma campanha em que, depois da queda, pedalou e faltam agora “uns metros para chegar ao sprint final” e “ganhar as eleições rotundamente”.

Recorde: 2,47 milhões já votaram por correio

Mais de 2,47 milhões de pessoas votaram, no sábado, por correio – um recorde na história eleitoral do país, segundo dados oficiais.

Espanha vota este ano pela primeira vez em eleições gerais numa época de férias de verão e com altas temperaturas, o que levou a um recorde de pedidos de eleitores para votarem por correio.

A lei espanhola permite a todos os recenseados em território espanhol votar por correio – o que pediram para fazer mais de 2,6 milhões de eleitores, tendo 94,2% deles (mais de 2,4 milhões) entregado o voto numa estação da rede Correios.

Até agora, o recorde de voto por correio estava nos 1,4 milhões das eleições espanholas de 2016.

O voto por correio esteve no centro de debates e polémicas. Num comício de campanha, Feijóo, do PP, pediu aos carteiros para “independentemente dos chefes”, distribuírem a documentação para votar, mesmo que tivessem de trabalhar “de manhã, à tarde e à noite”, e prometeu que ele mesmo lhes pagará as horas extraordinárias quando liderar o Governo.

Estas declarações de Alberto Núñez Feijóo, que no passado foi presidente da administração dos Correios, foram criticadas por outros partidos, pelos sindicatos e pela direção da empresa, que insistiram na fiabilidade do processo, como é reconhecido internacionalmente, e acusaram o líder do PP de ter adotado uma “estratégia ‘trumpista’ [numa referência ao ex-Presidente norte-americano Donald Trump]”, para poder eventualmente questionar os resultados das eleições.

Feijóo acabou por esclarecer no dia seguinte que não quis insinuar que havia uma tentativa de fraude ou de manipulação de votos, mas que simplesmente se referiu a um “congestionamento” na distribuição dos Correios com base em queixas de sindicatos.

Apesar do esclarecimento e atendendo ao volume de pedidos, o voto por correio manteve-se presente e sob permanente escrutínio nos debates, nas reportagens e no noticiário da campanha.

ZAP // Lusa

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