É uma casa portuguesa, com tristeza

Miguel A. Lopes / Lusa

Manifestações da plataforma ‘Casa Para Viver’, em defesa do direito à habitação.

A situação em que vivem os sem-abrigo foi retratada hoje em Évora, durante uma manifestação em defesa do direito à habitação, com vários sacos cama e malas de viagem no chão da principal praça da cidade.

Tratou-se de uma ação simbólica realizada na Praça do Giraldo, considerada ‘sala de visitas’ de Évora, pelo movimento Porta a Porta e integrada na manifestação nacional para reivindicar melhores condições no acesso à habitação.

“A ideia foi retratar a imagem que se vê por todo o país em que pessoas que até têm trabalho, mas não têm condições para ter uma habitação condigna e acabam por viver na rua”, afirmou à agência Lusa Ivo Luz, um dos dinamizadores do movimento em Évora.

Por outro lado “mais metafórico”, vincou, os sacos cama e malas de viagem no chão também representam “o ponto de vista dos jovens que têm intenções de comprar casa, estabilizar a vida e constituir família, mas que é absolutamente impossível”.

“Vemos as nossas esperanças enterradas pelos lucros que a banca vai obtendo de forma assustadora e a disposição dos sacos cama com as placas por cima é quase como se fosse a imagem de um cemitério”, frisou.

Com cartazes em que se podia ler “é uma casa portuguesa com tristeza” ou “pelo direito à habitação”, os manifestantes entoaram palavras de ordem como “a casa é para morar, não é para especular” ou “se o banco sobe a prestação, não há direito à habitação”.

Patrícia Góis, uma das cerca de 20 pessoas que participou no protesto, considerou, em declarações à Lusa, que os portugueses têm cada vez mais dificuldades para comprar casas, pois os salários que auferem “não são suficientes” para as despesas.

“Sou trabalhadora independente e essa é uma condição muito difícil para conseguir um empréstimo no banco”, assinalou, admitindo que gostava de comprar uma casa, já que vive numa alugada, desde que concluiu os estudos, há 10 anos.

Empunhando um cartaz em que sugeria “os lucros da banca a pagar os juros do BCE”, José Fonseca também se juntou ao protesto e exigiu ao Estado que “cumpra realmente a Constituição da República”.

“É fundamental que o Estado, até porque está previsto na Constituição o direito à habitação, cumpra o seu papel”, ou seja, “regule o mercado e os juros e mova habitação pública para fazer face ao problema”, defendeu.

Sublinhando que as dificuldades no acesso à habitação afetam todos, José Fonseca alertou que, perante a subida dos preços, há quem passe “por uma grande aflição e a habitação está a ser um forte garrote das pessoas”.

Para além de Évora, realizaram-se protestos em Lisboa, Porto, Setúbal, Braga, Aveiro, Faro, Lagos, Portimão, Albufeira, Leiria, Benavente, Coimbra, Viseu, Funchal, Covilhã, Beja, Sines e Portalegre.

No Porto, milhares de pessoas voltaram hoje a percorrer a rua de Santa Catarina, para mostrar que “o Porto está na luta” pela habitação, embora a manifestação de hoje tenha tido menos adesão do que a anterior, em setembro.

Palavras de ordem como “Abril exige casa para viver“, “estamos fartos de escolher pagar a renda ou comer” ou “Governo, escuta, o Porto está na luta” foram das mais entoadas ao longo do percurso na rua de Santa Catarina, desde a Praça da Batalha até à rua de Fernandes Tomás.

A adesão à manifestação de hoje foi, porém, inferior à de 30 de setembro, em que a PSP estimou terem participado cerca de oito mil pessoas.

Desta vez, a mancha de ocupação em Santa Catarina ficou a cerca de metade do observado há quatro meses, constatou a Lusa no local.

Segundo os promotores, esta série de manifestações, a terceira pelo direito à habitação agendada pela plataforma, constituída por cerca de uma centena de associações, é justificada porque “os problemas se mantém”.

ZAP // Lusa

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