Um novo estudo revela que é possível reverter alguns comportamentos ligados ao autismo na fase adulta.
A investigação, desenvolvida por uma equipa de cientistas norte-americanos e pela portuguesa Patrícia Monteiro, do Centro de Neurociências e Biologia Celular (CNC) da Universidade de Coimbra (UC), incidiu sobre o “Shank3″, um dos genes implicados no autismo.
O estudo foi publicado esta quarta-feira na revista científica Nature.
O autismo é uma patologia sem cura que afeta cerca de 70 milhões de pessoas em todo o mundo, estimando-se que a prevalência em Portugal seja de um caso em cada milhar de crianças em idade escolar.
A origem do autismo é “bastante variável”, mas o “Shank3″ está “associado a uma forma monogénica da patologia” e, quando surge uma mutação, “a proteína resultante deste gene – que funciona como um ‘andaime’ que dá acesso à comunicação entre neurónios – deixa de suportar a estrutura, causando danos no circuito neuronal”, explica a UC.
Para compreender o autismo, doença neuropsiquiátrica que compromete o normal desenvolvimento da criança e que permanece durante toda a vida, os especialistas desenvolveram, durante quatro anos, experiências em ratinhos adultos.
Os animais foram sujeitos a mutação do gene, tendo as experiências revelado, “pela primeira vez”, que é “possível reverter dois dos principais sintomas do autismo: ausência de interação social e comportamentos repetitivos”.
Ou seja, os investigadores conseguiram “consertar o ‘andaime’ e restabelecer a comunicação na estrutura “durante a fase de vida adulta desses ratinhos, demonstrando que é possível reverter as alterações bioquímicas, problemas de comunicação neuronal e mesmo melhorar as interações sociais e comportamentos repetitivos”, explica Patrícia Monteiro.
A especialista portuguesa participou no estudo ao abrigo do Programa Doutoral em Biologia Experimental e Biomedicina do CNC em parceria com o MIT (Massachusetts Institute of Technology), que lidera a investigação.
A descoberta “abre portas para a criação dos primeiros medicamentos eficazes no tratamento da doença”, sustenta a especialista, adiantando que “estes resultados indicam que, embora o autismo seja uma perturbação do desenvolvimento, é possível intervir na sua fase adulta”.
As experiências em ratinhos não têm aplicação direta nos humanos, mas Patrícia Monteiro sublinha que o estudo “ajuda a compreender o conjunto de alterações biológicas presentes no autismo”.
O estudo “abre portas para o desenvolvimento de novas estratégias terapêuticas, como por exemplo estratégias direcionadas para a melhoria de certas alterações comportamentais passíveis de serem revertidas em fase adulta e não para o quadro de alterações comportamentais do autismo como um todo”, conclui a investigadora.