Os ciúmes dependem da personalidade. Não, não é da cor dos olhos

O novo estudo associa experiências de género, estado de relacionamento e infidelidade aos ciúmes nas relações românticas.

Há quem diga que o ciúme é aquele monstro de olhos verdes, e normalmente está associado às relações amorosas — mas está presente em todo os tipo de relações, sejam de amizade ou até familiares.

Os ciúmes são considerados desagradáveis, mas também podem ter funções adaptativas.

Um estudo publicado este ano na Frontiers in Psychology sugere que as pessoas com alto nível de neuroticismo, pouca agradabilidade e menos abertas são mais propensas a ter ciúmes nas relações românticas.

De acordo com o Psy Post, o tipo de afeto e o ciúme já foram estudados anteriormente, mostrando diferentes tendências de ciúme para pessoas com relacionamento seguro, ansioso, ou que evitam relações.

Os “Cinco Grandes Traços de Personalidade” tradicionalmente considerados na Psicologia (Abertura, Consciência, Extroversão, Amabilidade e Neuroticismo) foram estudados em relação a muitas construções, incluindo a satisfação de relacionamentos e as relações interpessoais.

Apesar disso, há falta de investigação sobre a relação destes traços de personalidade com o ciúme.

Este estudo procura colmatar esta lacuna. Marina Richter, autora do estudo e os seus colegas estudaram um grupo de 509 mulheres e 338 homens recrutados a partir de panfletos, listas de correio, blogs e redes sociais.

A sua idade variou entre os 18 e os 63 anos. A amostra era predominantemente heterossexual e cerca de 3/4 dos participantes estavam numa relação de compromisso.

Os participantes completaram medidas sobre os traços de personalidade dos Cinco Grandes, apego de adultos, ciúmes românticos, e variável de estado de relacionamento.

Os resultados mostraram que maior neuroticismo, menor abertura, e menor amabilidade eram indicadores de maiores tendências para o ciúme.

Em relação ao grau de afeto, o quanto uma pessoa confia nos outros e a ansiedade de um abandono eram fatores de ciúme, enquanto que o conforto com a proximidade não tinha qualquer relação com os ciúmes.

A variação foi semelhante para as Cinco Grandes características e afeto, implicando que existem semelhanças significativas entre estas construções — que causam sobreposição.

Richter e os colegas testaram se estes efeitos eram influenciados pelo género, estatuto de relação, ou infidelidade do parceiro. Surpreendentemente, os traços de personalidade e as dimensões de apego previam o ciúme igualmente em todos estes grupos.

As mulheres mostram mais ciúmes emocionais enquanto os homens mostram mais ciúmes sexuais. Pessoas solteiras relataram níveis mais elevados de ciúmes com os seus parceiros anteriores do que com os atuais parceiros.

“Em suma, verificou-se que as experiências de género, estado de relacionamento e infidelidade estavam associadas a diferenças no ciúme romântico”, explicaram os investigadores.

Apesar destas diferenças significativas, contudo, o padrão de associações de ciúmes românticos com traços de personalidade e dimensões de apego parece não ser afectado pelo género, estatuto de relação, e experiências de infidelidade.

Esta descoberta aponta para uma rede estável de características pessoais subjacentes aos ciúmes românticos.

Este estudo deu passos para uma melhor compreensão dos mecanismos subjacentes ao ciúme. Apesar disso, tem limitações —  utilizou medidas de auto-relato, que podem ser especialmente vulneráveis a enganos e preconceitos, e a amostra era predominantemente heterossexual.

Inês Costa Macedo, ZAP //

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