Durante mil milhões de anos os dias na Terra tiveram só 19 horas. Foi um período aborrecido

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É complicado conseguir fazer tudo o que queremos num dia que só tem 24 horas. Mas se vivêssemos há alguns milhares de milhões de anos, seria muito pior: o dia na Terra tinha menos 5 horas.

Num novo estudo, cientistas desafiaram a noção convencional de que a duração do dia na Terra tem vindo a diminuir consistentemente ao longo da história devido à influência gravitacional da lua.

De acordo com o novo estudo,  a duração do dia na Terra pode ter permanecido constante em cerca de 19 horas durante mil milhões de anos, período frequentemente referido como “the boring billion” — em que basicamente nada aconteceu no nosso planeta.

O estudo, conduzido por Ross Mitchell, geofísico do Instituto de Geologia e Geofísica da Academia Chinesa de Ciências, e Uwe Kirscher, investigador da Universidade Curtin, na Austrália, foi publicado esta segunda-feira na Nature Geoscience.

Tradicionalmente, recorda o Phys.org, os geólogos estimam a duração dos dias no passado longínquo da Terra contando as camadas sedimentares criadas pelas flutuações das marés em planícies de lama.

No entanto, devido à escassez e à natureza contestada desses registos, os autores do estudo recorreram a um método diferente, conhecido como cicloestratigrafia, que identifica os ciclos “Milankovitch” — as mudanças climáticas impulsionadas pelas oscilações orbitais e de rotação da Terra.

Mitchell e Kirscher aproveitaram registos recentes de ciclos Milankovitch, e reavaliaram as teorias correntes sobre a paleorotação da Terra.

Uma dessas teorias sugere que a duração do dia na Terra pode ter permanecido constante devido a um equilíbrio entre as marés atmosféricas solares e as marés oceânicas lunares. Estas forças ter-se-iam se oposto, com a atração lunar a desacelerar a rotação da Terra e a maré solar a acelerá-la.

Os dados obtidos pelos investigadores no decorrer do estudo apoiam esta teoria, que aponta para um período de mil milhões de anos durante o qual a duração do dia parece ter parado de aumentar e se manteve constante em cerca de 19 horas.

Curiosamente, este período de “rotação estagnada” ocorre entre as duas maiores subidas dos níveis de oxigénio na Terra, sugerindo uma potencial ligação entre a rotação da Terra e o desenvolvimento da atmosfera.

Timothy Lyons, investigador da Universidade da Califórnia, que não esteve envolvido no estudo, comentou as implicações desta descoberta. “É fascinante pensar que a evolução da rotação da Terra pode ter afetado a evolução da composição da atmosfera”.

O novo estudo acrescenta peso à ideia de que o aparecimento de vida complexa na Terra, que requeria mais tempo para as bactérias fotossintéticas produzirem mais oxigénio, teve que esperar por… dias mais longos.

ZAP //

1 Comment

  1. O período de rotação da Terra tem vindo a aumentar devido ao efeito das marés provocadas pela Lua. Não só marés dos oceanos como também da parte sólida. Esse consumo de energia faz-se à custa da velocidade de rotação que vai diminuindo.
    Tal é explicado pelo Princípio da Conservação de Energia.

    O núcleo da Terra não está parado. A sua velocidade relativa à da crusta terrestre é que varia. Durante um período é maior e noutro é menor. Tal deve-se à elasticidade do manto que atua como uma mola. No conjunto verifica-se o Principio da Conservação de Movimento.

    Infelizmente as traduções brasileiras deixam muito a desejar e não são feitas por entendidos em Física.

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