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O perigoso “doom spending” está a infiltrar a geração Z (mas há formas de resistir)

Há cada vez mais jovens a fazer compras supérfluas como uma forma de escapismo e de fuga à realidade pessimista em que vivem.

Um novo fenómeno conhecido como “doom spending” está a surgir entre os jovens, caracterizado por gastos excessivos em luxos como viagens e artigos de marca para fazer face a uma perspetiva económica sombria.

De acordo com o Psychology Today, o “doom spending” refere-se a compras impulsivas e sem sentido como forma de terapia devido ao pessimismo em relação ao seu futuro.

Ylva Baeckström, professora de finanças na King’s Business School, salienta à CNBC que esta prática “não é saudável e é fatalista”. Baeckström sugere que a exposição constante a notícias negativas cria sentimentos de desespero, levando os jovens adultos a responder a estas ansiedades caindo em maus hábitos financeiros. “Isto fá-los sentir como no Armagedom”, descreve.

Um inquérito realizado pela Intuit Credit Karma em novembro de 2023 revelou que 96% dos americanos estão preocupados com o estado da economia, sendo que mais de um quarto recorre a despesas inúteis como forma de aliviar o stress.

Num mundo cada vez mais globalizado, esta tendência estende-se para além dos EUA. De acordo com um inquérito da CNBC, apenas 36,5% dos adultos a nível mundial consideram que estão em melhor situação do que os seus pais, enquanto 42,8% consideram que estão em pior situação.

“A geração a crescer agora é a primeira geração em muito tempo que será mais pobre do que os pais. Há o sentimento de que nunca poderão alcançar aquilo que os seus pais alcançaram”, refere Baeckström, que adverte para o facto de o doom spending proporcionar uma ilusão de controlo num mundo que parece estar fora de alcance.

Em vez de se dedicarem a objectivos financeiros a longo prazo, como poupar para comprar casa, os indivíduos entregam-se a luxos a curto prazo que acabam por diminuir a segurança financeira futura e agravar ainda mais a sensação de desespero.

Como resistir à tentação

Os especialistas financeiros sugerem que a compreensão da relação de cada um com o dinheiro é fundamental para quebrar este ciclo.

Baeckström recomenda fazer uma análise à sua relação com o dinheiro nos moldes da teoria do apego e equipara-a a uma relação com pessoas — as bases são criadas na infância e cada pessoa tem um estilo de apego diferente.

“Se sente que tem um apego seguro ao dinheiro, pode fazer uma avaliação sólida de algo. Mas se for inseguro ou evitativo, é mais provável que seja atraído para esse comportamento de consumo pouco saudável”, explica.

Estas atitudes são muitas vezes enraizadas logo na infância e influenciadas por fatores como se crescemos numa família rica ou pobre e os hábitos financeiros dos nossos pais.

Samantha Rosenberg, cofundadora e COO da Belong, uma plataforma de construção de riqueza, aconselha-nos a aumentar a “dor de pagar”, que consiste em usar métodos que nos deixem mais conscientes da quantidade de dinheiro que gastámos.

Por exemplo, ter de ir à loja física em vez de recorrer ao comodismo das compras online é uma forma de sentir mais a dor de pagar e prevenir as compras irrefletidas. “Os pontos de decisão extras, como escolher a loja, viajar até lá, avaliar o item pessoalmente e depois ter que ficar na fila para comprá-lo, ajudarão a desacelerar e a pensar mais criticamente sobre as suas compras”, disse.

Usar dinheiro vivo em vez de cartões também pode ajudar, já que o obriga a ver — literalmente — o dinheiro a sair da carteira. Aplicações como o Google Pay “ignoram a emoção associada ao processo de decisão de compra”, remata Rosenberg.

À medida que os jovens adultos se confrontam com a realidade económica, a superação das despesas inúteis exigirá uma maior literacia financeira e uma maior atenção nas decisões de despesa.

Adriana Peixoto, ZAP //

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