Direção do Bloco “em negação” e numa “fuga em frente”

Ana Mendes, Esquerda.net / Flickr

Catarina Martins discursa na Conferencia nacional do Bloco de Esquerda, Lisboa 2022

Críticos da direção do Bloco de Esquerda (BE) consideraram este sábado que a atual liderança do partido “está em negação” e fez “uma fuga em frente” ao recusar um efetivo balanço das derrotas eleitorais, insistindo na antecipação da Convenção Nacional.

O BE realizou à porta fechada a sua IV Conferência Nacional, na qual discutiu o rumo estratégico do partido depois do resultado eleitoral nas últimas legislativas, tendo a proposta global da Comissão Política obtido 305 votos.

A proposta subscrita por vários membros do movimento Convergência conseguiu 43 votos, e uma terceira proposta obteve nove.

Em declarações à Lusa, Bruno Candeias, do movimento Convergência, crítico da atual direção do BE, defendeu que o rumo estratégico do partido não se pode alterar numa conferência e apenas numa Convenção Nacional.

“Temos expectativa que a convenção possa realizar-se antes do prazo que estaria regulamentado que seria daqui a sensivelmente um ano. A nossa expectativa neste momento é que ela ainda se possa realizar este ano. Vamos bater-nos por isso já na próxima Mesa Nacional”, antecipou.

De acordo com o dirigente, “ao contrário da direção que acha que uma convenção só serve para alterar protagonistas”, o entendimento da Convergência é que uma reunião magna “serve para alterar ou definir o rumo estratégico do partido”.

Apesar de afirmar que a conferência foi um “bom início de caminho e que é onde se inicia esse debate”, Bruno Candeias considerou que “há uma negação por parte da direção nacional, e nomeadamente do secretariado, quanto ao porquê de o BE ter chegado aqui, das sucessivas perdas de influência e maus resultados eleitorais”.

“Nós achamos que a direção faz uma fuga em frente porque não quer fazer balanço dos últimos anos em que nós dizemos que há dois pilares fundamentais que orientaram a estratégia da direção, que foi a disputa institucional e a disputa ao centro, que colocou o partido num colete de forças subordinado ao PS e que nos retirou autonomia e força”, criticou.

De acordo com o membro da Convergência, há “questões que continuam ainda por resolver” como é o caso do “fechamento e estrangulamento democrático dentro do partido” porque “quem pensa diferente tem muitos problemas internamente”.

“O partido deve começar a olhar menos para a atividade parlamentar como o centro, mas começar a olhar para os movimentos sociais e para o trabalho local como os grandes instrumentos para nós voltarmos a ser uma esquerda alternativa”, defendeu.

Questionado sobre o discurso, no encerramento da conferência, da coordenadora bloquista, Catarina Martins, quando garantiu que oposição que o BE assume agora “não é meramente declarativa”, mas sim de “construção” e que os bloquistas vão ser a “alternativa vermelha e verde, a do trabalho e do clima”, Bruno Candeias respondeu que “de boas intenções está o mundo cheio”.

“Nós já ouvimos muita coisa nos últimos anos, mas nada alterou e, portanto, podemos dizer que vamos para as ruas, que somos uma esquerda grande, mas sem atos concretos e sem uma linha política que determine isso efetivamente, para nós, conta muito pouco”, lamentou.

No final de março, mais de 100 aderentes do BE já tinham pedido à Comissão Política a antecipação da XIII Convenção Nacional até junho, uma proposta que foi derrotada nessa reunião do órgão do partido.

PS fechou breve parêntesis aberto com a geringonça

A coordenadora do BE, Catarina Martins, acusou este sábado o PS de ter fechado “em definitivo o breve parêntesis aberto com a geringonça”, considerando que o partido de António Costa “alimenta o ressentimento social que a extrema-direita explora”.

No encerramento da IV Conferência Nacional do BE, que discutiu ao longo de todo o dia e à porta fechada, o rumo estratégico do partido depois do desaire eleitoral das últimas legislativas, Catarina Martins afirmou que os bloquistas estão agora na oposição e que “não poderia ser de outra forma”.

Na análise da líder do BE, “se os riscos de uma maioria absoluta do Partido Socialista já eram grandes à saída das eleições, a incerteza internacional só vem agravar esses riscos”, acusando o partido de António Costa de ter fechado “em definitivo o breve parêntesis aberto com a geringonça” e de ter abandonado “até os poucos e modestos objetivos de política social” desse período.

De acordo com Catarina Martins, a oposição que o BE assume agora “não é meramente declarativa”, mas sim de “construção”, assegurando que os bloquistas vão ser a “alternativa vermelha e verde, a do trabalho e do clima, a que se levanta contra todas as opressões”, uma luta com a qual pretendem resgatar, “desde logo, a democracia contra todas as ameaças, incluindo a da extrema-direita”.

“Já repararam certamente que, no parlamento, António Costa costuma dar respostas certeiras a André Ventura. O problema é que, fora do parlamento, na vida de todos os dias, o PS de sempre, o PS que fechou o breve parêntesis da geringonça, o PS de António Costa alimenta o ressentimento social que a extrema-direita explora”, acusou.

ZAP // Lusa

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