Neurocientistas descobriram que os nossos neurónios têm menos canais iónicos, o que poderá ter permitido ao nosso cérebro desviar recursos para outros processos neurais mais complexos.
Segundo o EurekAlert!, os cientistas do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) descobriram que, em comparação com outros mamíferos, os nossos neurónios têm um número muito menor de canais iónicos que permitem o fluxo de iões como o potássio e o sódio. São estes canais que produzem os impulsos elétricos que permitem os neurónios comunicar entre si.
Perante esta descoberta, a equipa levanta a hipótese de que esta redução pode ter ajudado o nosso cérebro a evoluir para operar de forma mais eficiente, permitindo-lhe desviar recursos para outras tarefas cognitivas mais complexas.
“Estudos comparativos anteriores estabeleceram que o cérebro humano está construído como outros cérebros de mamíferos, por isso, fomos surpreendidos ao encontrar fortes evidências de que os neurónios humanos são especiais”, disse Lou Beaulieu-Laroche, autor principal do estudo publicado, a 10 de novembro, na revista científica Nature.
Em 2018, a mesma equipa já tinha descoberto que os neurónios humanos e os de ratos diferem em algumas das suas propriedades elétricas, sobretudo em partes do neurónio chamadas dendrites, que recebem e processam os inputs de outras células.
Uma das descobertas desse estudo foi que os neurónios humanos tinham uma menor densidade de canais iónicos do que os neurónios dos ratos, o que na altura também gerou surpresa entre os investigadores porque esta era considerada constante entre as espécies.
No novo estudo, os neurocientistas decidiram comparar neurónios de várias espécies de mamíferos – entre ratos, furões, coelhos, saguis, macacos e, claro, humanos – para ver se conseguiam encontrar algum padrão que governasse a expressão dos canais iónicos.
Os investigadores descobriram que, em quase todas as espécies de mamíferos analisadas, a densidade dos canais iónicos aumentou à medida que o tamanho dos neurónios aumentava. A única exceção foram os neurónios humanos, que tinham uma densidade de canais iónicos muito menor do que o esperado.
“Se o cérebro consegue economizar energia ao reduzir a densidade dos canais iónicos, consegue gastar essa energia noutros processos neuronais ou de circuito”, explicou Mark Harnett, professor associado do MIT e outro dos autores da pesquisa.
“Pensamos que os humanos evoluíram a partir desse plano de construção que restringia o tamanho do córtex, tendo descoberto uma forma de se tornarem mais eficientes energeticamente”, concluiu.