Devíamos ser mais simpáticos com as gaivotas. Afinal, estão mais em risco do que pensamos

Num dia de verão na praia, o som das gaivotas faz parte do ambiente. Mas e quando elas estão no meio de uma cidade, ou quando acabam de almoçar?

Não há muita gente que goste de gaivotas marinhas. São barulhentas, desarrumadas e muito parciais com o que quer que estejamos a comer. Por mais irritantes que sejam, o seu comportamento arrojado esconde uma história diferente.

Existem muitas espécies diferentes de gaivotas. As aves que a maioria das pessoas considera gaivotas, com dorso cinzento e patas cor-de-rosa, são gaivotas arenque.

São as espécies mais propensas a nidificar em casas e a roubar a comida. Como estas gaivotas estão cada vez mais a nidificar em zonas urbanas, as pessoas vêm-nas com mais frequência. Embora pareça que há muitas, a população está a diminuir.

As gaivotas que fazem os seus ninhos em locais naturais, em vez de estruturas artificiais, encontram-se em terríveis dificuldades.

Todas as sete espécies de gaivotas que se reproduzem no Reino Unido são preocupantes do ponto de vista da conservação. As gaivotas arenque estão na lista vermelha do Reino Unido — o nível mais elevado de preocupação.

Algumas pessoas acreditam que a disponibilidade de alimentos provenientes de aterros sanitários tenha aumentado o número de gaivotas nos anos anteriores.

Na realidade, a intoxicação alimentar por consumirem comida de aterros sanitários, bem como o abate das aves, contribuiu para o seu declínio.

Um ponto de vista diferente

As gaivotas recebem muito ódio por se atirarem às pessoas, quer para obterem comida, quer para protegerem as suas crias. Talvez a maioria das pessoas fosse mais compreensiva se se imaginasse na posição de uma gaivota.

A maioria de nós teve muita sorte em nascer humana, e por vezes tomamos coisas como a comida e a segurança como garantidas. As gaivotas não podem contar com um fornecimento constante de comida do supermercado, ou saber que não vão magoar as suas crias.

Quando um casal de gaivotas se junta, tende a fazê-lo até à morte. Cada par defende um território de nidificação. As chamadas barulhentas que fazem podem parecer irritantes e inúteis, são a forma das gaivotas dizerem ao rest do bando onde é que os seus territórios estão localizados.

As gaivotas são algo conhecido como cleptoparasitas. Roubam comida umas da outras e de outras espécies. Isto não é invulgar nas aves, mas as gaivotas são invulgares na medida em que tiram comida aos humanos.

Isto é um comportamento arriscado. Um animal com o peso de um saco de açúcar está em desvantagem contra um humano. Na verdade, apenas uma pequena minoria de gaivotas é suficientemente ousada para o fazer.

As pessoas vêm as gaivotas como sendo gananciosas. Parecem devorar tudo o que conseguem encontrar, de um só trago. Mas o que estão realmente a fazer é armazenar comida numa bolsa, que funciona de forma semelhante a um saco de compras, a partir do qual a comida pode ser consumida mais tarde.

Do ponto de vista de uma gaivota, se não levar a comida que está à sua frente, pode passar fome. É uma questão de necessidade, não de ganância.

Estão apenas a tentar encontrar comida suficiente para sobreviver. Um estudo de 2019 descobriu que estas aves inteligentes aprenderam um processo complicado para tornar as minhocas do mar seguros para comer. Uma gaivota arenque foi mesmo observada a utilizar pão como isco.

As gaivotas

As gaivotas que vivem nas cidades são adaptáveis e inteligentes. Até aprendem os padrões da atividade humana, para decidir onde e quando roubar comida.

Há alguns anos, Madeleine Goumas, autora do artigo do The Conversation, iniciou um projeto de investigação para compreender as interações das gaivotas com os seres humanos, relativamente à alimentação.

A autora notou que as gaivotas roubavam comida às pessoas, sem que elas dessem conta. Pesquisas anteriores mostram que várias espécies de aves estão atentas ao olhar humano. Goumas questionou se as gaivotas prestavam atenção ao olhar dos humanos e se se aproximavam quando eles não estavam a olhar, propositadamente.

A autora desenvolveu um estudo para testar esta ideia, e cronometrou o tempo que as gaivotas demoravam a bicar um saco de batatas fritas que colocou no chão à sua frente — enquanto olhava para elas e quando desviava o olhar.

Encontrou gaivotas que demoraram mais tempo a roubar a comida quando as estava a observar. Também descobriu que as gaivotas eram atraídas por comida manuseada por humanos, provavelmente porque aprenderam que muitas vezes deixamos resíduos de comida espalhados por aí.

Qual o efeito prático deste estudo nas nossas interações com as gaivotas? Podemos reduzir os encontros indesejados ao eliminar os nossos resíduos alimentares de uma forma adequada.

Se optarmos por comer a nossa comida num local com gaivotas, devemos estar vigilantes: procurar onde estão e observar as aves. Verificar atrás de nós, sentarmo-nos debaixo de um guarda-sol ou junto a uma parede alta, para que as gaivotas não possam aparecer de repente, sem darmos conta.

O comportamento das gaivotas pode parecer agressivo, mas temos muito espaço para o alterar sem recorrer a medidas extremas.

As gaivotas estão a tirar o melhor partido de uma situação desagradável, causada pelas nossas próprias ações, e as nossas cidades podem ser o seu último refúgio.

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