Especialista olhou com atenção para as imagens históricas publicadas pela NASA na semana passada.
O momento histórico decorreu no início da semana passada, quando foram divulgadas as primeiras imagens obtidas através do James Webb, o maior telescópio de sempre lançado para o Espaço.
Lançado há quase sete meses, o James Webb trouxe-nos (para já) imagens do aglomerado de galáxias SMACS 0723, do Quinteto de Stephan, a Nebulosa do Anel Sul e da Nebulosa Carina, além do espectro do exoplaneta WASP-96b.
São nomes que conhecíamos, e de onde já tínhamos imagens – mas estas são realmente diferentes.
O James Webb traz mesmo uma nova perspectiva, tem impacto no estudo do Espaço, analisou Kristina Ulasovich, jornalista especialista em ciência, no portal Meduza.
O seu foco foi o aglomerado de galáxias SMACS 0723:
É a imagem infravermelha “mais profunda e clara de qualquer canto do universo até hoje”.
Explicando de outra forma, as cores na imagem apresentada aqui acima são o resultado do deslocamento dos comprimentos de onda das estrelas e galáxias para a região óptica. As estrelas e galáxias na faixa óptica “serão muito mais borradas e escuras”.
Após o James Webb enviar imagens para a Terra, o processo de análise, de decomposição, dos cientistas demora semanas – mas este demorou seis dias. O resultado é um arquivo com metadados e uma imagem a preto e branco em diferentes filtros.
“Para fazer uma imagem colorida, os cientistas atribuem cores diferentes a diferentes comprimentos de onda (geralmente comprimentos de onda longos que ficam mais vermelhos, e comprimentos de onda curtos, mais azuis). Então começa o processo criativo: especialistas ajustam os tons, tentando alcançar um equilíbrio entre estética e precisão científica. Na realidade, alguns dos detalhes da imagem obviamente não seriam visíveis ao olho humano”, explica Kristina.
No caso da imagem do aglomerado de galáxias SMACS 0723, o tempo total de exposição foi muito curto: 12 horas e meia. O telescópio Hubble demorou semanas a elaborar uma imagem semelhante.
Ainda em comparação com o Hubble, o James Webb foi concebido para observar objectos cerca de 100 vezes mais escuros do que aqueles que o Hubble poderia detectar.
Naquela imagem destacam-se ainda os raios visíveis ao redor das fontes de luz pontuais: “Esses feixes são característicos de todos os telescópios reflectores – aqueles que colectam luz com a ajuda de espelhos, não de lentes”. Nestes telescópios reflectores, há um espelho primário, grande, que colecta a luz e que depois a reflecte num espelho secundário, menor – e é a partir deste que é direccionada a radiação para instrumentos científicos que possuem matrizes sensíveis à luz (semelhante ao processo de câmeras digitais).
“Mas isso não é tudo: a luz também interage com o espelho principal do James Webb, que consiste em “pétalas” hexagonais. Isso origina mais seis feixes de difracção. Para reduzir a distorção, o telescópio é projectado de tal forma que alguns dos feixes são sobrepostos uns aos outros”, continua a especialista.
A diferença entre o James Webb e o Hubble também é visível no número de feixes de difracção: oito no James Webb e quatro no Hubble.
Agora, o Quinteto de Stephan:
Aqui a descrição é curta: “Este enorme mosaico é a maior representação do Webb até hoje. Contém mais de 150 milhões de puxeis e consiste em quase 1.000 fotos individuais”.
Na Nebulosa do Anel Sul:
A luz demora praticamente seis meses a viajar de uma extremidade da nebulosa à outra.
Agora, com os dados transmitidos pelo novo telescópio, os cientistas poderão criar um modelo tridimensional “excepcionalmente preciso” do Anel Sul e tentar perceber exactamente como foi formado.
Por fim, a nebulosa Carina:
A zona de algumas das estrelas mais brilhantes e massivas da Via Láctea – muito maiores do que o Sol.
Ao explorar estas áreas, os cientistas poderão responder a algumas das questões mais importantes da astrofísica moderna: “Conhecer a formação de várias estrelas e perceber como é determinado o número de luminares em certas regiões de nuvens de gás”.