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Destruição recorde no emprego de licenciados (que cada vez mais pedem ajuda devido à pobreza)

O emprego de licenciados registou uma queda homóloga de 6,1% no primeiro trimestre deste ano. É a maior redução desde 2011, com especial destaque para as mulheres licenciadas a meio da carreira.

Desapareceram, num ano, 105 mil empregos entre trabalhadores com formação superior, de acordo com os últimos dados do Instituto Nacional de Estatística (INE).

Está em causa uma descida de 6,1% no número de empregados licenciados, o que é um recorde, considerando a série do INE que começa em 2011, como destaca o Jornal de Negócios.

A publicação económica refere que “as perdas se concentram largamente entre os 35 e os 54 anos e sugerem que serão sobretudo as mulheres a sair do mercado de trabalho”, constituindo “94% dos licenciados em falta“.

Por outro lado, o desemprego entre os licenciados aumenta apenas 2,7%.

Esta quebra entre a população licenciada empregada pode reflectir um “fenómeno de emigração”, como analisa o economista João Cerejeira em declarações ao Negócios. É um cenário que o INE também admite.

Cerejeira considera que assistimos a uma “recomposição do mercado de trabalho”. “Torna-se mais atractivo para imigrantes não qualificados – os salários dos não qualificados estão a subir e há oportunidades de emprego – e torna-se menos atractivo para os mais qualificados“, refere.

Os números do INE mostram um aumento da taxa de desemprego para 10% no primeiro trimestre, com o emprego a aumentar apenas 0,4%.

Contudo, no caso dos trabalhadores menos qualificados, o emprego cresceu mais, sobretudo em sectores como alojamento e restauração, construção e actividades administrativas e serviços de apoio.

Cada vez mais licenciados pedem ajuda devido à pobreza

Há cada vez mais pessoas com formação superior a recorrerem a pedidos de ajuda devido à situação de pobreza, alerta a Assistência Médica Internacional (AMI), assinalando que “os salários muito baixos” não lhes permitem fazer face às suas necessidades.

“Começam já a aparecer aqui números preocupantes de pessoas que têm uma escolaridade mais avançada, um nível de literacia maior. Até pessoas que tiraram formação superior e depois, ou não conseguem arranjar algo que seja compatível com a sua formação, ou então, conseguem, mas com ordenados muito baixos”, nota à Lusa a directora da AMI no Centro Porta Amiga de Chelas (Lisboa), Salomé Marques.

O pedido “flagrante é a alimentação”, nota esta responsável, sublinhando, contudo, que há depois “uma série de necessidades muita alargada, quer a água, a luz, o gás, as rendas, a medicação e, às vezes exames, que o Serviço Nacional de Saúde (SNS) não comparticipa”.

A organização não governamental (ONG) também tem recebido mais pedidos de ajuda para apoio psicológico.

“Estamos a sentir a saúde mental das pessoas cada vez mais fragilizada“, o que é “muito preocupante, porque não há emprego, não há poder económico e toda a estabilidade emocional vai ficar afectada e acaba por ser uma bola de neve”, destaca Salomé Marques.

“Se a saúde mental não está bem, dificilmente conseguimos dar o salto para melhorarmos outros níveis”, acrescenta.

Salomé Marques antecipa que a pobreza, em Portugal, deverá “agravar-se mais” nos próximos tempos, até porque “entre os 16 e os 66 anos, 70% da nossa população está desempregada”, como nota.

ZAP // Lusa

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