Andy Needmad et al.
Os desenhos nas paredes das cavernas eram feitos propositadamente para parecerem dinâmicos diante do jogo de luzes e sombras.
Os primeiros desenhos animados do mundo podem não ter nascido no fim do século XIX, mas sim muito, muito antes disso.
Um novo estudo publicado na PLOS One revela que há dezenas de milhares de anos, as pinturas de animais nas paredes das cavernas eram colocadas em torno das fogueiras para parecerem animadas com a conjugação da luz e das sombras.
Tal como nos dias de hoje, estes “cartoons” eram criados com os mais pequenos em mente. De acordo com a pesquisa, é possível que a criação destas imagens fosse uma actividade típica entre as famílias, escreve o Live Science.
“Quanto temos esta luz dinâmica, de repente, estes animais parecem estar a mexer-se, começam a piscar dentro e fora do foco”, revela o arqueólogo Andy Needham.
Os investigadores criaram filmes onde mostram este efeito, recorrendo a modelos em 3D que replicam as pinturas feitas nas paredes das cavernas. Para isto, usaram tecnologias modernas de realidade virtual para estudarem 50 placas de calcário escavadas nos meados do século XIX, em França, que tinham 77 pinturas de animais.
Os homo sapiens terão feito os desenhos durante o tempo da cultura Magdaleniana, nos finais do período Paleolítico, há entre 12 mil e 16 mil anos, havendo casos em que alguns dos animais estavam sobrepostos, o que aumentava ainda mais a sensação de dinamismo das imagens.
“A neurologia humana está particularmente em sintonia com a interpretação de luzes e sombras que se movem e com a identificação de formas visuais familiares com condições de luz variantes”, relatam os autores.
Nem todos os desenhos foram criados da mesma forma e são notórios níveis diferentes de qualidade artística nestes, o que sugere que estes não eram todos do mesmo autor. Isto reforça a ideia que a criação das pinturas era um actividade social que era feita em grupo.
“É possível que muitas pessoas na comunidade se sentassem juntos a fazer isto. É quase como se fosse a televisão do Paleolítico“, afirma Needham.
Já tinha ouvido dos nossos arqueólogos do parque de Foz Côa uma interpretação semelhante das figuras que lá existem. Embora sejam feitas ao ar livre elas têm um propósito de parecer dinâmicas. O alto grau de estilização das figuras demonstra também um grande poder de abstração, uma característica que terá permitido ao homo sapiens um salto gigantesco na suas capacidades intelectuais.