Um novo estudo descobriu vestígios de um sistema fluvial com entre 34 e 44 milhões de anos na Antártida que terá chegado aos 1000 quilómetros.
Os geólogos descobriram os restos de um antigo sistema fluvial sob o enorme manto de gelo da Antárctida Ocidental, uma descoberta que lança luz sobre o passado climático da Terra e oferece uma visão sobre potenciais cenários climáticos futuros. Os resultados foram publicados a 5 de junho na revista Science Advances.
A equipa de investigação, liderada por Johann Klages, um sedimentologista do Centro Helmholtz para a Investigação Polar e Marinha do Instituto Alfred Wegener, na Alemanha, revelou que o sistema fluvial percorreu em tempos cerca de 1000 quilómetros. Esta descoberta fornece um valioso vislumbre de um período conhecido como Eoceno médio a tardio, que ocorreu há entre 34 milhões e 44 milhões de anos.
Durante esta época, a atmosfera da Terra sofreu mudanças drásticas. Os níveis de dióxido de carbono diminuíram significativamente, levando ao arrefecimento global e à formação de glaciares no que era então um planeta sem gelo. Este acontecimento climático antigo é de particular interesse para os cientistas que estudam o atual aumento dos níveis de dióxido de carbono devido às actividades humanas.
Em 2017, Klages e a sua equipa embarcaram numa expedição a bordo do navio de investigação Polarstern. Navegaram desde o sul do Chile, atravessando a Passagem de Drake, até à parte ocidental da Antártda, equipados com equipamento avançado de perfuração do fundo do mar, explica o Live Science.
Os investigadores perfuraram quase 30 metros no fundo do mar, recuperando núcleos de sedimentos de dois períodos distintos. A datação radiométrica, especificamente a análise dos rácios de urânio e chumbo, indicou que a camada inferior de sedimentos datava do período Cretáceo médio, há cerca de 85 milhões de anos, e continha fósseis de uma floresta tropical temperada. A camada superior de sedimentos, composta maioritariamente por areia, datava da época do Eoceno médio a tardio, há cerca de 30 a 40 milhões de anos.
A camada de areia do Eocénico apresentava um padrão fortemente estratificado, indicativo de um delta fluvial semelhante aos que se encontram em sistemas fluviais modernos como o rio Mississipi. Análises posteriores através de técnicas de biomarcadores lipídicos revelaram a presença de moléculas normalmente encontradas em cianobactérias, confirmando que os sedimentos foram depositados por um rio de água doce.
A equipa traçou o percurso do rio até uma região específica nas Montanhas Transantárcticas, determinando que corria durante aproximadamente 1500 quilómetros antes de desaguar no Mar de Amundsen. Este antigo sistema fluvial, agora enterrado sob quilómetros de gelo, apresenta uma imagem fascinante da dinâmica história climática da Antárctida.