O WASP-121b tem um clima nunca antes visto

Hubble / ESA

O WASP-121b está tão perto da sua estrela que a atração da maré estica o exoplaneta em forma de ovo

O gigante gasoso WASP-121b, também conhecido por Tylos, tem uma estrutura atmosférica única – diferente de tudo o que já foi descoberto. Este exoplaneta registou também os ventos mais rápidos de todos os planetas já conhecidos.

Uma equipa internacional de astrofísicos, incluindo três portugueses, mapeou pela primeira vez a estrutura tridimensional da atmosfera de um planeta fora do Sistema Solar WASP-121b e descobriu que tem um clima único.

O estudo foi publicado esta terça-feira na Nature e teve o contributo dos investigadores portugueses do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IA) Nuno Santos, Sérgio Sousa e Yuri Damasceno.

O planeta extrassolar em causa, também chamado Tylos, localiza-se a 900 anos-luz da Terra, na constelação da Popa, e está a ser estudado desde 2015.

Citado em comunicado do IA, o investigador Yuri Damasceno salienta que Tylos “faz parte de uma família de planetas que têm as temperaturas mais altas” que se conhecem para planetas “em todo o Universo”.

Tylos é um gigante gasoso semelhante em massa a Júpiter, maior planeta do Sistema Solar, tem temperaturas superiores a 2.000ºC e orbita tão perto a sua estrela que completa uma volta em 30 horas.

Como escreve a New Scientist, esta órbita estreita aquece a atmosfera do planeta a temperaturas de 2500°C, suficientemente quentes para ferver ferro.

Mas, se o planeta tem um dos lados sempre virado para a estrela, sendo por isso extremamente quente; o outro lado está permanentemente às escuras, o que o torna muito mais frio.

Graças ao telescópio VLT, operado pelo Observatório Europeu do Sul (OES), no Chile, a equipa descobriu que a atmosfera de Tylos tem três camadas: uma mais profunda com ventos carregados de ferro, outra intermédia com uma corrente de jato muito rápida que transporta sódio e uma superior com ventos de hidrogénio.

Ao observar o planeta quando transitava pela sua estrela, um dos espetrógrafos de alta resolução do VLT conseguiu detetar assinaturas químicas na atmosfera de Tylos e detetar as suas diferentes camadas.

“O que descobrimos foi surpreendente: uma corrente de jato faz girar o material em torno do equador do planeta, enquanto um fluxo separado nos níveis mais baixos da atmosfera move o gás do lado quente para o lado mais frio. Este tipo de clima nunca foi visto antes em nenhum planeta”, sustentou a líder do estudo, Julia Seidel, citada em comunicado do OES, organização astronómica da qual Portugal faz parte.

Um estudo complementar, publicado na Astronomy and Astrophysics, revelou a presença de titânio abaixo da corrente de jato, que admirou os cientistas, uma vez que observações anteriores do planeta não tinham identificado este elemento químico, “possivelmente porque se encontrava oculto nas camadas mais profundas da atmosfera”.

Segundo os cientistas, os resultados das descobertas divulgados abrem o caminho para estudos mais detalhados sobre a composição química e o clima de outros mundos extraterrestres.

ZAP // Lusa

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