Uma descoberta acidental no fundo do mar está a desafiar o que sabemos sobre o clima da Terra

Solvin Zankl

A pesquisa indica que as falhas transformantes são mais importantes para o ciclo do carbono do que se pensava.

Investigadores no Woods Hole Oceanographic Institution (WHOI) desvendaram novos dados sobre o ciclo do carbono geológico, destacando a importância anteriormente negligenciada das falhas transformantes oceânicas na sequestração de carbono.

O estudo, liderado pelo cientista associado Frieder Klein e publicado nos Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), centra-se nas rochas recolhidas dos flancos submersos do Arquipélago de São Pedro e São Paulo ao longo da falha transformante oceânica de São Paulo, a aproximadamente 500 km da costa do Brasil.

As falhas transformantes, onde as placas tectónicas deslizam uma pela outra, constituem um dos três tipos principais de limites de placas na Terra. Até agora, estas características geológicas foram pouco exploradas no contexto do ciclo do carbono, muitas vezes consideradas sem interesse devido à sua baixa atividade magmática.

No entanto, a pesquisa de Klein desafia esta perceção ao demonstrar que as rochas do manto expostas ao longo destas falhas podem atuar como um significativo sumidouro de CO2, um componente do ciclo do carbono geológico não considerado em modelos anteriores.

Os resultados do estudo sugerem que o processo de fusão parcial do manto não só liberta CO2 mas também permite que o gás fique preso nos fluidos hidrotermais. Estes fluidos reagem então com o manto mais próximo do fundo do mar, capturando CO2 no processo.

Esta descoberta indica que a transferência de massa de CO2 magmático para o manto oceânico alterado e água do mar pode ser substancialmente maior do que estimado anteriormente, sendo necessária uma revisão das fluxos globais de CO2 geológico, explica o SciTech Daily.

Embora a quantidade de CO2 emitida através das falhas transformantes seja minúscula comparada com as emissões antropogénicas, Klein enfatiza a importância das emissões geológicas do manto da Terra, incluindo aquelas das falhas transformantes, na condução do clima do planeta ao longo de escalas de tempo geológicas.

Antes do aumento nas emissões de CO2 induzidas pelo homem, estes processos geológicos desempenharam um papel crucial na regulação do clima e habitabilidade da Terra.

Para aprofundar a sua compreensão do ciclo do carbono entre o manto da Terra e o oceano, os investigadores investigaram a formação de pedra-sabão e conjuntos com magnesite durante a carbonatação mineral do peridotito do manto na falha transformante de São Paulo.

O estudo revela que as condições únicas nas falhas transformantes oceânicas, caracterizadas por baixas extensões de fusão e a presença de peridotito, são propícias à carbonatação mineral extensiva, sequestrando efetivamente o CO2.

A recolha destas rochas do manto oceânico alteradas por carbonato durante uma expedição de 2017 foi descrita por Klein como “um sonho tornado realidade“, marcando a confirmação de uma hipótese que a equipa tinha feito 12 anos antes.

ZAP //

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