Restos mortais de antigos gregos e catacumbas de cristãos da era romana surgiram em Nápoles. Investigou-se sem escavar.
Física de partículas e arqueologia: dois ramos da Ciência que parecem ter pouco ou nada em comum.
Mas foram especialistas destes dois ramos que, trabalhando juntos, descobriram uma câmara subterrânea secreta em Nápoles, Itália. Mais precisamente no subsolo de Sanità.
A câmara helénica seria uma espécie de cemitério há cerca de 2.500 anos, acreditam os autores do estudo publicado na revista Scientific Reports.
Apareceram restos mortais de habitantes da Grécia Antiga e catacumbas de cristãos da Era Romana.
Já se sabia que aquele local existia mas aquela zona, Rione Sanità, tem uma elevada densidade populacional, tem muitos edifícios e, por razões de segurança, as escavações arqueológicas são muito limitadas.
Desta vez foi possível descobrir algo graças à tal colaboração entre física de partículas e arqueologia.
Os cientistas utilizaram uma técnica chamada muografia, uma nova ferramenta da geofísica: uma técnica de imagiologia que mede a passagem dos muões, partículas subatómicas parecidas com electrões, mas com uma massa maior.
Raios cósmicos e lasers, não invasivos, que são úteis em ambientes como este: urbanos, onde é impraticável usar técnicas de estudo activo.
Ou seja, investigou-se sem escavar fisicamente.
Os rastos foram registados via emulsão nuclear – um filme fotográfico extremamente sensível é usado para capturar e ver os caminhos das partículas carregadas.
Para contornar a grande limitação da muografia – o detector deve ser colocado abaixo do nível do alvo porque os muões vêm do céu ou do hemisfério superior – os dispositivos de rastreamento de muões foram colocados a 18 metros de profundidade (num porão do século XIX que era utilizado para envelhecer presunto).
Assim, e a partir desse ponto mais fundo, foi registado o fluxo das partículas durante 28 dias. Cerca de 10 milhões de muões foram capturados.
Foi gerada uma imagem radiográfica das camadas superiores e foi possível observar as estruturas.
Depois, os autores do estudo realizaram análises a laser 3D das estruturas, comparando-as com o fluxo de muões.
Aí identificaram um excesso de partículas – indicação da presença de uma câmara funerária rectangular de aproximadamente 2 por 3,5 metros. Foi feita pelo Homem.
Deveria ser o caixão de alguém rico, porque estava numa zona muito profunda. A tumba faria parte da necrópole helénica dos séculos VI a.C. a III a.C..