A geringonça foi recordada, mas houve “chantagens” e “negas” pelo meio. E fica a ideia que o líder do PS poderia ter ido mais longe.
PS e CDU, que estiveram juntos num Governo ao longo de quatro anos, estão em 2024 em contextos diferentes e com líderes diferentes.
Pedro Nuno Santos e Paulo Raimundo encontraram-se no debate realizado neste sábado, na SIC, e o primeiro assunto foi a Justiça. O secretário-geral continua a não falar sobre casos concretos e apelou a consensos mais alargados para “garantir estabilidade em áreas soberanas”. O líder do PCP aposta em colocar a Justiça mais próxima das pessoas.
Voltou a falar-se sobre eventuais entendimentos, novamente sem respostas concretas. Pedro Nuno deseja o melhor para PCP, BE e Livre, mas quer “é que os portugueses votem no PS, para garantir estabilidade”. Quando a acordos pós-eleitorais: “Não posso fazer esses cálculos, vou-me bater pelo melhor resultado possível, venham os votos de onde vierem”. Raimundo tem outra perspectiva: “Se alguém quer uma mudança, mais do que útil é necessário o voto na CDU; se há alguém com experiência acumulada no combate à Direita é a CDU, voto na CDU é um voto seguro”. Mas lembrou que o PS fez “chantagem” noutros tempos, durante as negociações do Orçamento do Estado para 2022.
Paulo Raimundo acredita que a CDU está a subir nos votos, citando as subidas recentes nas eleições na Madeira e nos Açores. “Vamos ver qual vai ser a realidade no dia 10 de Março”, repetindo que o conteúdo é mais importante do que a forma. Pedro Nuno Santos admitiu que o PCP teve um papel “muito importante” nos tempos da geringonça com “muitos avanços”. Mas lamentou que os comunistas não tivessem votado a favor da agenda do trabalho digno. O PCP deu “negas” quando a ideia era rumar para um “sentido positivo”.
Pegando no assunto do emprego, o secretário-geral do PS avisa que a intenção do PCP de aumentar 15% os salários – mais 150 euros que “só na Administração Pública correspondem a 3 mil milhões de euros”. Mas falta um debate essencial: a política económica. “Falta fazermos o debate de como se aumentam os salários no país, é o debate que mais tem faltado aos nosso pequenos debates ao longo destas semanas. É na diversificação da economia e com economia mais moderna que vamos criar condições para que as empresas possam ter melhores salários”.
Paulo Raimundo concorda: os salários não têm sido debatidos nestes encontros televisivos. E atirou: “Quando não temos vontade para tomar medidas (aumentar salários), a primeira pergunta que se coloca é ‘quanto custa?’. Mas ninguém nos perguntou onde se foi buscar 20 mil milhões de euros para salvar a banca ou 3 mil milhões de euros para as empresas de energia…”.
Pedro Nuno apresentou números: o PCP quer um aumento geral dos salários com um custo de 3 mil milhões de euros, um aumento de 7,5% nas pensões (2 mil milhões), colocar 1% do PIB na habitação (custo de 2.6 mil milhões de euros). “Aqui num instantinho, em três propostas, são 7.6 mil milhões de euros. Qual é o problema? Dar resposta aos problemas com o nosso país com a capacidade económica e financeira que o país tem”, já depois de citar o seu adversário: “Não podemos é fazer uma chuva de promessas que não são realizáveis. Não há tudo para todos”. PS está distante do PCP porque acha que estes números não são equilibrados.
O socialista admite um “problema sério” no Serviço Nacional de Saúde (SNS): “É de difícil resolução, não passa só por salários. Aí acompanhamos o PCP no trabalho que é preciso fazer com médicos, enfermeiros, mas temos de intervir na organização e gestão do SNS. Devemos dar mais autonomia à gestão dos nossos hospitais”. Paulo Raimundo reagiu: “A questão é: porque é que isso não foi feito?”.
O último assunto foram relações internacionais. O PCP distancia-se distingue-se “completamente do governo capitalista russo” e continua a defender o “caminho da paz” na Ucrânia, que não é compatível com uma “corrida ao armamento” por parte de diversos intervenientes.
Questionado sobre a morte de Alexei Navalny, ficou o comentário: “Morreu em circunstâncias que levantam dúvidas e é preciso esclarecer tudo”. Aqui, como se lê no Diário de Notícias, ficou a ideia de que Pedro Nuno Santos (que não desiste da NATO) até se conteve para não “dizimar” o adversário deste debate – mas possível aliado daqui a poucas semanas. Aliás, apareceu quase para resgatar o adversário: “O que nos distancia na política externa não nos tenha impedido de trabalhar em conjunto”. Ficou o convite.
O jornal Expresso viu neste debate o melhor Pedro Nuno até agora. Uma vitória clara para o líder do PS reforçada na SIC Notícias. Parece que Pedro Nuno Santos “acordou” nesta recta final dos debates – e amanhã, segunda-feira, será o debate com Luís Montenegro.
Paulo Raimundo derrotou o inquieto P. Santos, segundo os analistas. Nota-se que P. Santos não tem estaleca para os debates, Nota-se que está muito intranquilo e algo espantadiço. Já como ministro foi um desastre, e até acabou por fugir.