De uma antiga sede do KKK no Texas, grupo de ativistas constrói um centro artístico comunitário

Daniel Banks / Transform 1012 N. Main Street

Antiga sede do KKK, no Texas

Grupo quer utilizar espaço como local de cura para as feridas latentes que os Estados Unidos ainda sofrem decorrentes do racismo.

A morte de George Floyd, em maio de 2020, fez ressurgir na sociedade norte-americana a discussão em torno do racismo e de formas como o combater – numa altura em que Donald Trump ainda estava no poder e as divisões sociais eram bem latentes. Os meses que se seguiram ficaram marcados, por exemplo, pela retirada de diversas estátuas e monumentos que celebravam os heróis da Confederação, os quais lembravam diariamente os seus habitantes do passado racista que o país teve.

Em linha com este movimento, um grupo de artistas texanos e algumas organizações locais estão a reclamar a posse de um edifício que outrora pertenceu ao Ku Klux Klan. O grupo intitulado Transform 1012 N. Main Street (T1012) – numa referência à morada do edifício – conseguiu recolher donativos suficientes para comprar a estrutura, considerada a mais antiga sede do KKK no país.

De acordo com o Smithsonian Mag, ali terão acontecido espetáculos de trovadores, prática de marcha e outros eventos KKK no final da década de 1920. Agora, os planos passam por transformar o edifício num centro comunitário e um espaço dedicado às artes que possa inspirar momentos “de partilha e de cura“.

A iniciativa surgiu quando Adam W. McKinney se começou a interessar pelo assassinato de Fred Rouse, um cidadão negro linchado por uma multidão branca em Fort Worth em 1921. McKinney, professor de dança e bailarino clássico, dedicou-se a aprender sobre a antiga sede do grupo em Fort Worth, para descobrir que a estrutura ainda estava de pé. Foi neste contexto que fundou a DNAWORKS, uma organização de artes e serviços, capaz de dar uma nova vida ao edifício, completamente oposta à anterior.

“Compreendemos intuitivamente o poder de transformar um momento de transformar um monumento ao ódio e à violência num espaço de justiça reparadora“, explicou o responsável à mesma fonte. No entanto, pouco tempo depois dos planos de conversão terem sido revelados, os seus donos pediram permissão para avançaram com a demolição do edifício — apesar de os serviços municipais serem obrigados a explorar outras alternativas.

Foi através desta quadro legal que os ativistas conseguiram reunir donativos e finalmente comprar o espaço — processo que finalmente foi concluído em janeiro.

“Acreditámos, e ainda acreditamos, que é inapropriado demolir o edifício porque sentimos que se perderia uma história de racismo, violência de terror racial e supremacia branca”, explicou um representante do grupo ao ARTnews. “Ao fazê-lo, a recorrência seria mais fácil de reproduzir“.

Com data de construção de 1924, o edifício é composto por tijolos que simbolizavam “mais uma forma de comportamento policial, movimento e cultura” e mostrou “como a arquitetura é capaz de violência“, de acordo com o site T1012. A sua localização também é estratégica: um bairro de cidadãos negros, hispânicos e imigrantes que tinham de passar diariamente pelo edifício e ser relembrados do seu simbolismo. Ainda de acordo com o Smithsonian Mag, a comunidade de Fort Worth chegou a ter um dos maiores grupos do KKK dos Estados Unidos da América.

Desta forma, a mesma população que outrora era vítima e aterrorizada pelos que frequentavam o espaço, são agora os seus proprietários, com propósitos muito mais nobres que os anteriores. Ali nascerá uma incubadora de pequenas empresas e um espaço para potenciar a criatividade, assim como espaços de lazer e de trabalho para artistas em residência.

ZAP //

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