Dar a mão e estender a passadeira. Num debate de esquerda, falou-se da direita

Francisco Romão Pereira / Lusa

A coordenadora do Bloco de Esquerda (BE), Catarina Martins, e a líder do PAN, Inês Sousa Real.

A coordenadora do Bloco de Esquerda (BE), Catarina Martins (E), e a líder do PAN, Inês Sousa Real (D).

O debate entre Catarina Martins e Inês Sousa Real ficou marcado por trocas de acusações sobre o chumbo do OE2022, que “estendeu a passadeira” à direita.

A coordenadora do BE alertou hoje que um governo de direita não irá resolver a crise climática, tendo a porta-voz do PAN acusado a bloquista de “faltar ao país” através da rejeição do Orçamento do Estado.

“Eu ouvi-a debater com quem disse que a emergência climática de facto não existe. E a pergunta que lhe coloco é se acha mesmo que com a direita alguma vez poderá ter um caminho ambiental ou de responsabilidade”, foi a questão lançada por Catarina Martins a Inês Sousa Real num debate na RTP3 no âmbito das eleições legislativas de dia 30.

A líder do BE disse também que, no que toca ao clima, o planeta dirige-se para um abismo e “a direita quer acelerar”.

Ao longo do debate, Catarina Martins fez referência por várias vezes ao facto de o PAN admitir apoiar um governo de direita e defendeu que “é muito estranho” que o partido Pessoas-Animais-Natureza “ache que pode fazer um acordo, por exemplo, para salvar o Serviço Nacional de Saúde com a direita que já lhe disse em vários debates que só pensa na faturação”.

“Nunca tem uma medida para reforçar o Serviço Nacional de Saúde, são todas para contratualizar negócio privado e só negócio privado. E é por isso, Inês, que se queremos salvar o SNS – eu quero e acho que a Inês também quer – é preciso ser claro, e a direita nunca será caminho”, salientou a líder do BE.

“Dar a mão à direita, isso sim, é o que o PAN tem feito quando diz que pode viabilizar qualquer governo, e nestas coisas nós temos todos que fazer escolhas claras”, acrescentou.

A porta-voz do PAN sustentou que o PAN “não se identifica na dicotomia esquerda direita” e que a “emergência climática não se deve acantonar na esquerda, deve ser uma preocupação transversal a todas as forças políticas”.

E salientou que o partido que estiver em condições de formar governo “tem que ter na sua agenda política e no seu plano de governação a preocupação com a agenda climática, senão o tiver o PAN não está disponível a tudo”.

Recusando que o partido possa “viabilizar todo e qualquer governo”, Inês Sousa Real disse também que “jamais” o PAN irá integrar um executivo com o Chega.

No frente a frente, na RTP3, o ‘chumbo’ do Orçamento do Estado para 2022 na generalidade foi o primeiro tema em cima da mesa e motivou críticas do PAN ao voto contra do BE.

“Quando todos nós dissemos aos portugueses e às portuguesas que tinham de ficar em casa, que íamos declarar o estado de emergência por força de um contexto sanitário, atirar a toalha para o chão e não dar a oportunidade ao orçamento de chegar à especialidade é de facto faltar ao país”, criticou a porta-voz do PAN, apontando que o momento “exigia mais” dos partidos.

Para a líder do PAN, o cenário de eleições antecipadas “foi estender a passadeira” à direita e ao “crescimento de forças populistas antidemocráticas”.

Na resposta, a coordenadora do BE salientou a necessidade de “um orçamento que respondesse ao país” e responsabilizou o PS, apontando que “não quis, fez uma exigência de maioria absoluta” e “precipitou as eleições”.

“Cada partido tem o seu mandato e deve responder por soluções para o país”, continuou Catarina Martins, apontando que “as soluções não estavam no Orçamento do Estado”.

E defendeu ser “um pouco estranho lançar preocupações sobre a extrema-direita” quando o PAN “sabe que PSD e CDS nos Açores fizeram um acordo com o Chega, como fizeram um acordo com a Iniciativa Liberal”.

Ao longo do debate, BE e PAN discordaram quanto à cobrança de uma taxa de carbono na pecuária, descida do IRC e à instituição do rendimento básico incondicional e concordaram quanto à necessidade de mais medidas para combater as alterações climáticas e o fim de benefícios fiscais para empresas poluentes.

ZAP // Lusa

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