A zona fronteiriça entre a Turquia e a Síria permanece “tensa” às primeiras horas da manhã de hoje, após o desencadear da intervenção militar turca, em que “morreram muitos civis”, disseram as Forças Democráticas da Síria (FDS).
“Neste momento temos ‘calma tensa’ na fronteira desde as 3h (0h em Lisboa) disse o porta-voz das FDS, Kino Gabriel, que localizou confrontos em Sere Kanye (Ras al Ain) e Tal Abiad. “Muitos civis foram mortos ou ficaram feridos nos bombardeamentos contra as cidades e povoações da fronteira, incluindo mulheres e crianças”, disse ainda a mesma fonte, sem precisar um número provisório de vítimas mortais.
Anteriormente, as FDS, lideradas pelos curdos das Unidades de Proteção do Povo (YPG), tinham referido a morte de pelo menos oito pessoas, entre as quais cinco civis, no início do ataque da Turquia contra território sírio.
A organização adiantou igualmente que elementos do grupo radical Estado Islâmico atacaram civis na zona sul de Ras al-Ain, mas as forças policiais curdas conseguiram fazer recuar a agressão. Tal Abiad e Ras al-Ain são pontos situados na linha de fronteira que Ancara pretende controlar tendo, por isso, lançado na quarta-feira a terceira ofensiva militar desde 2016.
Nesta área que a Turquia chama “zona segura”, o governo de Ancara pretende concentrar os milhões de refugiados sírios que se encontram em território turco desde que começou a guerra civil na Síria em 2011.
Outro dos pontos alvo dos ataques nas últimas 24 horas pela Turquia foi Qamishli, uma das cidades mais densamente povoadas do território que os curdos-sírios controlam no norte da Síria. Nesta cidade o regime de Damasco controla a zona do aeroporto.
A Turquia lançou a ofensiva militar depois de os Estados Unidos terem anunciado no domingo que as tropas norte-americanas na região, que prestavam apoio militar às milícias curdas contra o Estado Islâmico, iam retirar-se do teatro de operações. Por outro lado, o Exército da Turquia afirma ter destruído até ao momento 181 objetivos, principalmente depósitos de munições da milícia curda YPG, no noroeste da Síria.
“As Forças Armadas turcas alcançaram 181 objetivos da YPG em ataques aéreos e disparos de artilharia no quadro da operação ‘Fonte de Paz’”, disse hoje o Ministério da Defesa da Turquia numa mensagem difundida através da rede social Twitter.
Pelo menos 60 aviões de combate turcos participaram no início da ofensiva, tendo os militares progredido cerca de 30 quilómetros em território sírio, na tentativa de controlar uma faixa de 32 quilómetros de largura ao longo da fronteira turco-síria, entre o rio Eufrates e a fronteira com o Iraque.
Durante a noite, unidades terrestres do Exército turco, apoiadas por milícias sírias, entraram na zona a partir de quatro pontos específicos. “A ‘Operação Fonte de Paz’ continua tal como foi planeada, do outro lado da fronteira”, disse hoje de manhã o vice-presidente turco Fuat Oktay através do Twitter.
No âmbito da intervenção militar, os Estados Unidos anunciaram que assumiram a custódia de cerca de 40 elementos do Estado Islâmico que se encontravam presos, entre os quais dois britânicos responsáveis pela decapitação de reféns estrangeiros. Os presos estavam em prisões no noroeste da Síria.
Na quarta-feira, o presidente norte-americano disse que Washington assumiu a “custódia de alguns dos mais perigosos combatentes do Estado Islâmico”. De acordo com o jornal Washington Post, o objetivo dos Estados Unidos é transferir os detidos para o Iraque.
Entre os presos encontram-se os britânicos Alex Kotey e Shafee Elsheikh, apelidados como “Jihadi Ringo” e “Jihadi George”, respetivamente, e que se juntam a outros extremistas do Reino Unido conhecidos como “Os Beatles do Estado Islâmico”, devido à acentuada pronúncia inglesa.
O presidente dos Estados Unidos ordenou as tropas norte-americanas a abandonarem a região antes da ofensiva turca, pelo que foi criticado pelas forças políticas em Washington, incluindo figuras de destaque do Partido Republicano e altas patentes militares.
Na quarta-feira, e após as críticas contra a ofensiva turca, Trump afirmou em comunicado que não apoia o ataque turco que considera “uma má ideia”. Donald Trump disse também que a Turquia pode ser responsabilizada pelo que possa acontecer com os radicais islâmicos que se encontravam presos pelos curdos e pelos norte-americanos no norte da Síria.
Uma nação sem país
Com mais de 26 milhões de cidadãos, os curdos são a maior nação sem território do mundo — à frente dos 7 milhões de palestinos, 6 milhões de tibetanos, 5 milhões de caxemires e 4.8 milhões de romanis, e mais numerosos do que estes povos somados.
Os curdos vivem num território que abrange partes da Arménia, Azerbaijão, Irão, Iraque, Síria e Turquia, e reivindicam a criação do Curdistão, entre o norte do Iraque, leste da Turquia e noroeste do Irão.
A perda de partes importantes dos territórios destes países é apontada como origem das perseguições e massacres de que os curdos são vítimas há décadas. No caso da Turquia, que mais fortemente tem reprimido as pretensões nacionalistas curdas, a criação do Curdistão implicaria a perda de mais de um terço do seu território, no leste do país.
Até ao início do século 20, os curdos não reivindicavam a criação do seu próprio país. Com um estilo de vida de pastores itinerantes de cabras e ovelhas, o principal elemento de identidade nacional é a sua organização social, baseada na lealdade a clãs.
Após a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), o maior controle das fronteiras nacionais impediu o trânsito livre dos seus rebanhos, forçando a maioria dos curdos a fixar-se em aldeias e adotar a agricultura, fazendo surgir a luta pela criação de uma nação própria.
“Não nos ajudaram na Normandia”
Donald Trump minimizou o papel dos curdos ao afirmar que eles não ajudaram os Estados Unidos durante a II Guerra Mundial e que se limitaram a lutar pelas suas terras na Síria durante a batalha contra o Estado Islâmico.
“Só para que percebam, os curdos estão a lutar pelas suas terras,” disse Trump aos jornalistas na Casa Branca. “E como alguém escreveu num artigo muito, muito poderoso hoje, eles não nos ajudaram na II Guerra Mundial, eles não nos ajudaram na Normandia, por exemplo. Mas eles estão lá para nos ajudar com a terra deles e isso é uma coisa diferente”.
Trump insistiu que os EUA gastaram “enormes quantias de dinheiro” em ajuda aos curdos na compra de munições e de armas. “Dito isto, nós gostamos dos curdos”, afirmou.
Esse “enorme” investimento é rejeitado pelas Unidades de Proteção Populares (YPG), a fação mais importante das Forças Democráticas Sírias (SDF), e considerada terrorista pelos turcos. “Não temos armas pesadas [dos EUA] que seriam úteis contra aviões ou tanques turcos”, disse uma fonte das YPG à Reuters, de acordo com o Diário de Notícias. “As armas mais pesadas que recebemos dos EUA são algumas munições de morteiros, nada mais pesado. Nada de mísseis, nada de armas antiaéreas, nada de antitanques”, acrescentou.
Os comentários de Trump na Sala Roosevelt seguiram-se a um comunicado, horas antes, no qual o presidente declarou não apoiar o ataque turco. Na declaração, Trump responsabilizou Ancara pelos milhares de combatentes do Estado Islâmico presos pelos curdos.
ZAP // Lusa
Pois é, mais uma vitima dos EUA, lutaram lado a lado contra o governo da síria, agora foram abandonados para a Turkia os aniquilar, fizeram muito parecido com Sandam no Iraque,apoiaram-no depois foram acabar com ele.
Viver num país assim, mais vale morrer de uma vez.
Isto é o que se chama morrer lentamente…