Uma poderosa e revolucionária técnica de edição de ADN descoberta em bactérias pode permitir modificar genomas inteiros – um progresso colossal em relação àquilo que hoje é possível fazer, com as técnicas baseadas no CRISPR.
Uma técnica inovadora de edição de ADN descoberta em bactérias, denominada “edição em ponte” pode vir a ser capaz de remodelar completamente os genomas.
Esta nova abordagem pode mesmo permitir alterações genómicas muito mais extensas do que as possíveis com o CRISPR, revolucionando a forma como se manipulam genomas.
O CRISPR – revelado em 2012 – era até então conhecido por ser mais um mecanismo de destruição de genes do que de edição precisa. Esta técnica utiliza uma proteína que se liga a um RNA guia para localizar e cortar DNA em locais específicos, confiando nos mecanismos de reparo celular para alterar o genoma.
Embora eficaz, o CRISPR resulta, muitas vezes, em mutações imprecisas.
A edição em ponte, apresentada num estudo publicado recentemente na Nature, envolve uma proteína chamada recombinase que também se liga a um RNA guia.
Esta nova técnica permite adicionar, eliminar ou inverter sequências de DNA de qualquer comprimento sem deixar “cicatrizes” genéticas, oferecendo uma manipulação do genoma muito mais controlada e precisa.
Descoberta em bactérias
Como explica a New Scientist, esta técnica baseia-se em mecanismos usados por parasitas genéticos bacterianos, especificamente os elementos IS110, que cortam e colam partes do genoma.
Embora outras técnicas possam realizar edições semelhantes, geralmente requerem múltiplas etapas e deixam vestígios de DNA, limitando sua eficácia.
Apesar do potencial revolucionário da edição em ponte, esta técnica foi apenas demonstrada em células bacterianas e em testes in vitro; pelo que não é claro se funcionará eficazmente em células humanas.
Como refere Patrick Hsu, autor correspondente do estudo, à New Scientist, o impacto potencial desta técnica vai além da substituição de genes defeituosos, podendo permitir também uma reconfiguração ampla de genomas inteiros, desde plantas a animais, com precisão até agora inatingível, possivelmente chegando ao nível da engenharia de cromossomas completos.
“O que gostaríamos de fazer é ir além da inserção de genes individuais e fazer engenharia do genoma à escala dos cromossomas”, perspetiva o cientista.
Para já, a edição em ponte só demonstrou funcionar em células bacterianas ou em tubos de ensaio, pelo que não se sabe ainda se funcionará em células complexas como as dos humanos.
“Estamos entusiasmados com o potencial desta técnica para fazer alterações no genoma muito mais amplas do que as que podemos fazer atualmente com o CRISPR (…) Este é um passo importante para uma visão mais alargada da conceção do genoma”, considera Patrick Hsu.