CRISPR: O holocausto dos tempos modernos?

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Poderá o controlo das caraterísticas genéticas – não pela sua eliminação, mas sim pela sua escolha – ser o novo “holocausto”?

O CRISPR é uma tecnologia de edição genética capaz de editar o ADN, com alta precisão.

Sendo uma tecnologia que pode editar a vida de qualquer ser vivo, é fácil de compreender os problemas éticos que enfrenta.

Se, nos tempos mais negros do passado recente, houve quem tivesse eliminado pessoas pelas suas características; agora, com o CRISPR é possível não eliminar, mas sim criar pessoas com características específicas.

Posto isto: corremos o risco de viver um holocausto CRISPR?

Apesar do bom uso que podemos fazer desta ferramenta (como o tratamento de várias doenças, incluindo o cancro), os especialistas receiam que seja utilizada para editar outras caraterísticas não patológicas da humanidade que sejam consideradas “anormais” ou “inaceitáveis”.

No livro The Promise and Peril of CRISPR, da autoria de Johns Hopkins, publicado recentemente, a bioeticista Rosemarie Garland-Thomson escreve sobre o perigo de usar o CRISPR para se chegar ao que chama “eugenia de veludo”.

Uma “nova eugenia”

Como transcreve a Live Science, Garland-Thomson discute as implicações éticas e sociais do CRISPR, comparando-a à eugenia – uma ideologia e um conjunto de práticas que visam “melhorar” a qualidade genética da população humana através da seleção genética ou eliminação de características consideradas indesejáveis.

A autora expressa preocupações sobre as questões epistemológicas que a existência desta tecnologia levanta, particularmente em relação aos limites do ser humano e às implicações de usar o CRISPR para alinhar embriões com o que se considera uma “criança saudável”.

A autora defende que a edição genética, bem como outras tecnologias reprodutivas modernas, estão a criar uma “nova eugenia”, disfarçada sob o pretexto de saúde e liberdade reprodutiva.

Esta nova forma de eugenia, amplamente apoiada por uma ética de “liberdade de escolha” e pelos interesses comerciais, promove uma medicina que encoraja os pais e médicos a tomarem decisões baseadas no que consideram ser os melhores interesses das futuras crianças.

A autora alerta que essa nova eugenia moderna gira em torno da “correção, reparação, melhoria e eliminação de características humanas” – fazendo lembrar o que aconteceu no holocausto – onde o regime Nazi levou ao extremo o conceito de eugenia, aplicando-a de forma brutal e sistemática.

Consequências moralmente questionáveis

Historiadores, bioeticistas e filósofos criticam esta abordagem, argumentando que a manipulação genética para melhorar ou aperfeiçoar indivíduos e comunidades futuras cria consequências moralmente inaceitáveis.

Garland-Thomson considera que esta forma de eugenia liberal intensifica a discriminação genética.

Além disso, a autora considera que estas intervenções representam uma ameaça à justiça social e à diversidade, promovendo uma cultura de reprogenética que contraria e padroniza a variação humana em nome da liberdade individual.

Miguel Esteves, ZAP //

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