Atrasos nas cirurgias oncológicas pediátricas preocupam especialistas: exposição prolongada à quimioterapia agrava os efeitos colaterais físicos e psicológicos da doença e do tratamento.
Os tempos de espera para cirurgias a crianças com cancro estão a aumentar em Portugal, o que pode conduzir a consequências graves de longo prazo para as crianças que são assim forçadas a períodos mais longos de quimioterapia.
A Acreditar – Associação de Pais e Amigos de Crianças com Cancro – alerta para essas consequências, que têm prolongado o sofrimento das crianças e famílias e aumentando os riscos de complicações a longo prazo.
De acordo com a Acreditar, citada pela Renascença, há casos em que as crianças chegam a aguardar até um ano pela cirurgia após o diagnóstico — período de tempo fundamental na vida de uma criança — o que agrava os efeitos colaterais físicos e psicológicos da doença e do tratamento.
A exposição prolongada à quimioterapia, necessária enquanto estas crianças aguardam cirurgia, pode provocar danos de longo prazo, como anemia crónica, infertilidade e maior risco de acidentes vasculares cerebrais (AVC), além de sintomas imediatos como cansaço, perda de apetite e infeções frequentes devido à imunidade reduzida.
Os atrasos estão associados à escassez de profissionais de saúde especializados, como médicos e enfermeiros, e à falta de recursos nos hospitais para atender às necessidades urgentes dos pacientes pediátricos. Apesar de as cirurgias oncológicas serem classificadas como prioritárias, a realidade mostra que a capacidade do sistema de saúde em responder de forma eficaz está comprometida.
Uma possível solução defendida pela Acreditar seria a criação de centros especializados para o tratamento de cancros pediátricos, que reuniriam os recursos e as equipas necessárias para garantir que as intervenções cirúrgicas fossem realizadas no menor tempo possível, reduzindo os impactos negativos da espera.
Em Portugal, surgem cerca de 400 novos casos de cancro pediátrico por ano, um número que deixa de parecer pequeno tendo em conta que 20% das crianças diagnosticadas não sobrevivem e 60% das que superam a doença enfrentam algum tipo de sequela.