O ponteiro não para na corrida contra o tempo para “salvar” a Caverna de Cosquer

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Bradshaw Foundation

A entrada subaquática para a Caverna de Cosquer.

Os arqueólogos estão numa corrida contra o tempo para salvar — dentro dos possíveis — a subaquática Caverna de Cosquer, ameaçada pelas alterações climáticas.

A Caverna de Cosquer situa-se nas Calanques, em Marselha, e é uma gruta subaquática única no mundo, classificada como monumento histórico. O seu nome vem precisamente do mergulhador que a descobriu, em 1991.

A caverna está repleta de pinturas e gravuras pré-históricas, de há 33 mil anos, representando principalmente focas, pinguins, peixes, polvos e outros animais. É o único lugar do mundo onde arte marinha subaquática pré-histórica pode ser encontrada.

Inicialmente, a gruta estava localizada 100 metros acima do nível do mar, mas devido à subida da água, causada pelas alterações climáticas, está agora 37 metros abaixo do nível do mar. A entrada é feita debaixo de água através de um longo túnel com 175 metros de comprimento.

Jespa / Wikimedia

Representação da geografia da Caverna de Cosquer.

A ameaça das alterações climáticas deixa os cientistas em contrarrelógio para salvar a caverna, escreve a agência AFP.

A subida gradual do nível do mar a cada ano, aliada à poluição da água, estão a danificar cada vez mais a arte.

Embora quatro quintos da caverna tenham sido inadvertidamente perdidos ou submersos devido à passagem do tempo, 229 figuras de arte rupestre sobrevivem.

A caverna guarda ainda 69 marcas de mãos, incluindo três que foram deixadas por engano, algumas delas feitas por crianças. No total, foram encontrados 600 sinais, imagens e gravuras rupestres, que incluem vida aquática nunca antes vista em pinturas rupestres.

A solução passa por uma réplica da caverna em tamanho real, conhecida como Cosquer Méditerranée, que ficará a poucos quilómetros de Marselha.

Os cientistas estão numa corrida contra o relógio para finalizar o mapeamento digital para uma reconstrução 3D da caverna.

Arte rupestre na Caverna de Cosquer.

Luc Vanrell e os mergulhadores-arqueólogos que lidera estão a ter que trabalhar cada vez mais rápido para explorar os últimos recantos da gruta de 2.500 metros quadrados para evitar que esta se perca para sempre.

A ideia de fazer uma réplica do local foi debatida pela primeira vez logo após a descoberta da caverna, mas só em 2016 é que o governo regional avançou com o projeto num edifício renovado.

Usando os dados 3D recolhidos pelas equipas arqueológicas, a réplica de 23 milhões de euros é um pouco mais pequena do que a caverna original, mas inclui cópias de todas as pinturas e 90% das gravuras.

Daniel Costa, ZAP //

5 Comments

  1. Boa tarde.
    Como mergulhadora amadora aplaudo a iniciativa MAS, critico sobremaneira a demora. Desde 2016?! Lá está, não é um Estádio de Futebol, um campo de Golfe, etc…
    Entretanto, e preservar definitivamente a caverna – não?! Selar a entrada, após o q/se drenaria o túnel e construir uma entrada bem mais acima do nível do mar?! Não será certamente uma obra de engenharia impossível, já q/se escavam montanhas inteiras p/se fazerem túneis rodoviários.
    Só as receitas turísticas num par de anos, mt provavelmente já pagariam todos os custos…
    Mas isto sou eu, a divagar e q/como se costuma dizer em bom português: “não percebo nada de horta!”
    Mas que é uma tristeza… é. Cumprimentos, Maria João 🙂

  2. Isso é muito interessante! Mostra que, ao longo da curta existência humana sobre a Terra, o nível do mar elevou-se em 137 metros! A conclusão deveria ser que nossos antepassados foram os grandes responsáveis pelas mudanças climáticas que nos assolam desde sempre. Vale investigar qual era a ‘pegada de carbono’ dos nossos pré-históricos ou, até, se foi algum outro fator que não a liberação de carbono que deflagrou as mudanças climáticas…
    Mais realisticamente, nos leva à humildade de reconhecer que muito pouco sabemos sobre os mecanismos do clima na Terra e não mais que especulamos, nem sempre de maneira isenta.

  3. Caro Daniel

    Apesar de bem intencionados, os seus comentários podem gerar confusão nas mentes menos esclarecidas sobre estes assuntos. Na verdade, está misturando assuntos distintos… Embora muito haja ainda por conhecer, e sempre haverá, estas situações climáticas, assim como os seus mecanismos, são razoavelmente conhecidos.
    O arrefecimento do Planeta levou, em diversas fases, a uma enorme retenção da água no estado sólido sobre os continentes, o que se traduziu em um recuo das águas oceânicas (a situação descrita refere-se ao último máximo glacial). Obviamente, as causas não são de origem humana, mas sim de natureza planetária e até astronómica, e o fenómeno processa-se em ciclos de dezenas de milhar ou centenas de milhar de anos… por isso, o termo “alterações climáticas” utilizado no texto pode induzir em erro, por analogia com a situação atual.
    O que temos atualmente não é uma variação da temperatura (e suas consequências) ao longo de 20 mil anos, mas sim uma alteração drástica ao longo de menos de um século…

    • Alteração drástica depende do ponto de vista.
      Subida da água do mar ou descida das plataformas continentais?
      Ainda deve haver quem pensa erradamente que as montanhas tem sempre a mesma altura!
      Tudo na terra é dinâmico e sempre será, um dia vão desaparecer as cavernas e não só,

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