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Consumo excessivo de álcool cresce em Portugal. Mortes por overdose aumentaram quase 30%

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De acordo com um relatório apresentado na terça-feira no Parlamento, quase todos os indicadores relacionados com o consumo excessivo de álcool estão a agravar-se em Portugal. Também as mortes por overdose aumentaram quase 30% em 2018 e atingiram o valor mais elevado dos últimos cinco anos.

Como noticiou a TSF, que teve acesso ao relatório, referente a 2018, entre esses indicadores encontram-se as embriaguezes entre os jovens, os internamentos e readmissões em clínicas de tratamento, mas também a mortalidade por intoxicações alcoólicas ou em acidentes sob a influência de álcool.

O relatório, da Coordenação Nacional para os Problemas da Droga, das Toxicodependências e do Uso Nocivo do Álcool, do Ministério da Saúde, mostra igualmente que a regressão existe em vários indicadores, nomeadamente no capítulo das drogas, mas é no álcool que os ‘passos atrás’ são mais evidentes.

Foi registado um “acréscimo entre 2015 e 2018 do consumo recente e atual de bebidas alcoólicas e do consumo binge [em excesso] e da embriaguez nos jovens de 18 anos”.

A rede pública forneceu tratamento a 13.422 pessoas com problemas relativos ao álcool, com uma subida de 5% nos que iniciaram estes tratamentos e de 15% nos readmitidos. Registou-se ainda 4.733 internamentos com diagnóstico atribuível ao consumo de álcool, 63% por doença alcoólica do fígado e 28% por síndrome de dependência alcoólica.

Os problemas com álcool detetados como “diagnósticos secundários” também aumentaram, ultrapassando os 32 mil no último ano. O número de internamentos relacionados com álcool tiveram em 2018 “os valores mais elevados dos últimos sete anos”.

O mesmo relatório aponta 1.087 óbitos com a presença de álcool, com 37% a morrerem em acidentes, 37% por morte natural, 13% por suicídio e 5% em intoxicação alcoólica. O último ano contabilizou 59 mortes por intoxicação alcoólica, num aumento de 34% em relação a 2017.

O documento destaca igualmente o aumento da mortalidade por causa do álcool, sendo os valores de 2018 os mais elevados dos últimos cinco anos quanto às intoxicações alcoólicas e aos acidentes de viação sob a influência do álcool.

 

Segundo a Autoridade Tributária, venderam-se em 2018 515,5 milhões de litros de cerveja, 27,3 milhões de litros de outras bebidas fermentadas, 16,9 milhões de litros de produtos intermédios e 8 milhões de litros de bebidas espirituosas. O Instituto da Vinha e do Vinho contou a venda de 264,4 milhões de litros de vinhos tranquilos.

Mortes por overdose aumentaram quase 30%

As mortes por overdose aumentaram quase 30% em 2018 e atingiram o valor mais elevado dos últimos cinco anos, sendo que na maioria dos casos foram detetadas mais do que uma substância, de acordo com dados do Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências (SICAD) divulgados esta quarta-feira.

Estes dados, apresentados na Assembleia da República, indicam que, nos registos do Instituto Nacional de Medicina Legal e Ciências Forenses, dos 307 óbitos com a presença de substâncias ilícitas e informação de causa de morte, 49 foram considerados overdose, avançou a agência Lusa.

Os relatórios destacam nestas overdoses a presença de opiáceos (65%), cocaína (51%) e metadona (31%), sublinhando o aumento de casos quer com opiáceos, quer com cocaína. Em 92% das overdoses foram detetadas mais do que uma substância, destacando-se, em associação com as drogas ilícitas, o álcool (45%) e as benzodiazepinas (20%).

Quanto às outras causas das mortes com a presença de drogas (258), foram sobretudo atribuídas a morte natural (42%) e a acidentes (38%), seguindo-se-lhes o suicídio (14%) e o homicídio (3%).

No domínio da oferta, o SICAD diz que vários indicadores apontam para uma “maior circulação de drogas no mercado nacional numa conjuntura de grandes desafios, como o crescente uso da Internet na comercialização de diversas substâncias psicoativas e as alterações recentes no papel do país nas rotas do tráfico internacional”.

Quanto às rotas, Portugal tem sido um país de trânsito no contexto do tráfico internacional de haxixe e de cocaína, em particular nos fluxos oriundos respetivamente de Marrocos, e da América Latina e Caraíbas, e que têm como destino outros países, sobretudo europeus.

Os relatórios apresentados dão ainda conta de um “aumento relevante” em 2018 “da utilização de Portugal em rotas de cocaína com destino fora da Europa”.

“É também de assinalar que, em 2018, todo o haxixe apreendido oriundo de Marrocos se destinava a Portugal, e a maioria do confiscado com origem em Portugal se destinava a países europeus”, sublinha um dos documentos, frisando que o papel do país no tráfico de heroína a partir de países africanos com destino à Europa “tem vindo a ganhar relevância”.

Portugal mantém-se igualmente como recente tendência de trânsito “de consideráveis quantidades de ecstasy proveniente da Europa Central com destino ao Brasil”.

Outra das tendências apontadas no relatório de 2018 relativo à situação do país em matéria de drogas é a persistência de mais diagnósticos tardios do VIH+ nos casos relacionados com toxicodependência ou o aumento do grau de pureza de algumas drogas.

Quanto à potência/pureza médias das drogas apreendidas em 2018, as autoridades destacam o aumento do grau de pureza do ecstasy (aumento contínuo desde 2010) e da cocaína (cloridrato) pelo terceiro ano consecutivo.

Também se registaram aumentos da potência média do haxixe e do grau de pureza da heroína em relação a 2017, cujos valores médios em 2018 foram os segundos mais elevados do quinquénio. Em contrapartida, diminuiu o grau de pureza das anfetaminas pelo terceiro ano consecutivo, representando o valor mais baixo dos últimos cinco anos.

No sumário executivo dos relatórios relativos à situação do país em matéria de drogas, toxicodependência e álcool, o coordenador nacional para os Problemas da Droga, das Toxicodependências e do Uso Nocivo do Álcool, João Goulão, considera que as tendências “evidenciam a necessidade de respostas céleres e de priorizar as intervenções com impacto efetivo nos ganhos em saúde destas populações”.

“Reiteramos a necessidade de se priorizarem as ações preventivas, que têm vindo a registar perdas de continuidade e de reforço. Importa também equacionar a criação de novas respostas que atendam às necessidades dos utentes da área da Redução de Riscos e Minimização de Danos, bem como facilitar o encaminhamento destes utentes para as estruturas de tratamento”, acrescentou.

ZAP //

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