Conflitos e desastres naturais levam mais de 40 milhões de pessoas a deslocarem-se dos seus países

Cerca de 41,3 milhões de pessoas viviam deslocadas no seu próprio país em 2018, em 55 países, devido a conflitos e violência, o maior número de deslocados já registado, segundo um relatório divulgado esta sexta-feira.

De acordo com o relatório global do Centro de Monitoração de Deslocação Interna – do Conselho Norueguês para os Refugiados (NRC, sigla em inglês) -, divulgado na sexta-feira em Genebra (quando eram 23:00 de quinta-feira em Lisboa), 28 milhões de novos deslocados internos surgiram só em 2018, por conflitos, violência e desastres naturais, noticiou o Expresso, citando a agência Lusa.

Das 41,3 pessoas que vivem deslocadas internamente por conflitos e violência no mundo, três quartos (30,9 milhões) vivem em apenas dez países. São estes a Síria (6,1 milhões), a Colômbia (5,8), a República Democrática do Congo (3,1), a Somália (2,6), o Afeganistão (2,6), o Iémen (2,3), a Nigéria (2,2), a Etiópia (2,1), o Sudão (2,1) e o Iraque (2).

Os conflitos e a e violência contribuíram para provocar 10,8 milhões de novos deslocados internos em 2018 e os desastres naturais levaram outros 17,2 milhões de pessoas a deslocar-se no mesmo período. A Etiópia (2,9 milhões), a República Democrática do Congo (1,8 milhões) e a Síria (1,6 milhões) foram responsáveis por mais da metade do total das novas deslocações por conflitos e violência em 2018.

No Médio Oriente, o conflito no Iémen (252 mil pessoas deslocadas só em 2018), em particular, teve uma escalada significativa na segunda metade do ano passado, aumentando vulnerabilidade de uma população já em crise.

O conflito na Síria diminuiu, mas ainda contribuiu para algumas das maiores deslocações forçadas no mundo. A insegurança contínua e a destruição generalizada significam que as pessoas são incapazes de regressar às suas áreas de origem.

(dr) UNRWA

ONU entrega ajuda humanitária na cidade de Yarmouk, na Síria

O relatório do NRC indicou ainda que 17,2 milhões de pessoas foram deslocadas por novos desastres naturais em 144 países e territórios em 2018, com ciclones tropicais e monções a provocarem deslocações em massa nas Filipinas, na China e na Índia.

Nas Filipinas, 3,8 milhões de pessoas deslocaram-se só em 2018, prova da alta exposição do país às catástrofes naturais. Igual número de pessoas teve de sair de suas casas por catástrofes naturais na China no ano passado. A época das monções teve um forte impacto no sul da Ásia, onde 2,7 milhões de pessoas se deslocaram na Índia no ano de 2018.

Nos Estados Unidos (EUA), 1,2 milhões de pessoas foram obrigadas a deslocar-se em 2018 devido a catástrofes naturais. A Califórnia sofreu os incêndios florestais mais destrutivos da sua história, que deslocaram centenas de milhares de pessoas.

Altas temperaturas e baixos níveis de precipitação também contribuíram para incêndios florestais sem precedentes dos EUA à Grécia, passando pela Austrália, e levando centenas de milhares pessoas a deslocarem-se, destruindo seriamente propriedades e impedindo retornos rápidos.

As condições de seca foram vigiadas em apenas nove países – Afeganistão, Brasil, Burundi, Etiópia, Iraque, Madagáscar, Mongólia, Senegal e Somália – e foram responsáveis por pelo menos 760 mil pessoas deslocadas durante o ano passado, um número claramente subestimado.

A deslocação cíclica e prolongada de pessoas continua a ser impulsionada pela instabilidade política, pobreza crónica e desigualdade e mudanças ambientais e climáticas.

Muitos deslocados tentam retornar a áreas inseguras e com poucas oportunidades socioeconómicas, mas em vez de criar condições para soluções duradouras, isso recria o risco e aumenta a probabilidade de crises irromperem novamente no futuro.
Vários países foram afetados por conflitos armados e desastres ao mesmo tempo.

A seca no Afeganistão (435 mil pessoas deslocadas em 2018) provocou mais deslocações do que o conflito armado no país e a crise no nordeste da Nigéria (613 mil) foi agravada pelas enchentes que afetaram 80% do país.

O relatório mostrou que o deslocamento interno é um fenómeno cada vez mais urbano. A guerra em cidades como Dara’a na Síria, Hodeidah no Iémen e Trípoli na Líbia foram responsáveis por grande parte das deslocações registadas no Oriente Médio em 2018.

Os centros urbanos como Daca, no Bangladesh, também são o destino preferido de muitas pessoas que fogem dos efeitos das alterações climáticas.

África Subsaariana com mais deslocados

A África subsaariana foi a região do mundo com mais pessoas deslocadas internamente em 2018, totalizando dez milhões, dos quais mais de 70% devido a conflitos, indica o Relatório Global sobre Deslocados Internos (GRID 2019).

O documento, a que a Lusa teve acesso, salientou que a violência provocou 7,4 milhões de deslocações nesta região, entre janeiro e dezembro de 2018, três vezes mais do que no Médio Oriente e no Norte de África, enquanto os desastres forçaram 2,6 milhões de pessoas a abandonar as suas casas.

O GRID 2019, elaborado pelo Centro de Monitorização de Deslocados Internos (IDMC, na sigla inglesa) do Conselho Norueguês para os Refugiados, contabilizou no ano passado um número recorde de 41,3 milhões de pessoas que tiveram de se deslocar no interior dos seus países devido a conflitos.

Registou ainda ainda 17,2 milhões de novos deslocados devido a desastres naturais, associados sobretudo ao clima, entre os quais 2,6 milhões na África Subsaariana. O número total de deslocados da África subsaariana representa 36% do total mundial.

A Etiópia, que foi afetada tanto por desastres naturais como por conflitos, foi o país onde se registaram mais novos deslocados devido a disputas étnicas ou relacionadas com recursos, num total de 2,9 milhões de pessoas.

Fuerza Aérea de Chile

As cheias no Chile, numa região normalmente caracterizada pela seca, fizeram 10 mortos, 19 desaparecidos

Entre os dez países com mais deslocados no mundo devido à violência, cinco são africanos: República Democrática do Congo, Somália, Nigéria, Etiópia e Sudão.

Cerca de 16,5 milhões de pessoas viviam deslocados internamente na África subsaariana no final do ano passado, dos quais três milhões na República Democrática do Congo onde décadas de instabilidade continuam a forçar migrações internas.

O relatório destacou, por outro lado, que a deslocação interna nesta região acontece num contexto de urbanização “sem precedentes”, estando atualmente 29 cidades africanas entre as que mais crescem no mundo.

Por isso, as cheias urbanas representam um dos principais desafios. Seis das 10 maiores cheias que obrigaram as deslocações em 2018 ocorreram na África subsaariana e os maiores impactos foram sentidos nas áreas urbanas. Milhares de pessoas tiveram de se deslocar durante a época das chuvas nas cidades incluindo Beledweyne na Somalia e Lagos na Nigeria.

“O modelo de risco de deslocação devido a cheias sugere que as inundações vão forçar 2,7 milhões de pessoas a deslocar-se, em média, por ano, no futuro, dois terços das quais em áreas urbanas e peri-urbanas”, sublinhou o IDMC.

TP, ZAP //

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