Ao contrário do que diz o senso comum e os conselhos médicos dos últimos anos, comer mais gordura pode ser benéfico para a saúde, desde que não se descuide nas calorias.
Diversos estudos recentes apontam para o fato de que certos tipos de gorduras – e não todos – podem sair da lista de “vilões”, seja para quem quer emagrecer ou evitar problemas cardíacos, afirma o médico Michael Mosley, que apresenta o programa da BBC Trust me, I’m a Doctor (Confie em mim, eu sou médico).
“Estes estudos são o tipo de notícia que faz com quem queira deitar ao lixo aquele leite desnatado que tem usado no seu cappuccino”, diz Mosley.
Se a crença era a de que as gorduras saturadas criavam coágulos nas artérias e engordavam, novos estudos mostram que consumi-las pode, na verdade, ajudar a perder peso e ser benéfico para o coração.
No início do ano, por exemplo, um estudo liderado pela British Heart Foundation causou polémica. Investigadores de Oxford, Cambrige e Harvard, entre outros, examinaram a ligação entre o consumo de gorduras saturadas e doenças cardíacas.
Ao analisar o resultado de quase 80 estudos envolvendo mais de meio milhão de pessoas, não encontraram provas convincentes de que comer gorduras saturadas implicava em um maior risco de problemas cardíacos.
Mais do que isso, quando analisaram os testes sanguíneos, os investigadores descobriram que altos níveis de gorduras saturadas estão mesmo associados a um menor risco de doenças coronárias. Isto é válido especialmente para o tipo de gorduras saturadas encontradas no leite e outros laticínios, conhecido como ácido margárico.
Difícil de explicar
O estudo provocou desconfiança por parte de alguns especialistas, que temem que o resultado possa confundir as pessoas e que passe, em vez da mensagem certa de que é OK consumir mais quantidades de algumas outras formas de gordura, a mensagem errada de que é OK comer muito mais gorduras saturadas até doces.
Isto é preocupante, dizem, porque é sabido que os altíssimos níveis de obesidade no mundo vêm sendo inflamados por petiscos como muffins, bolos e rissóis, todos com altos índices de gordura, açúcar e calorias.
Professora Kay-Tee Khaw, de Departamente de Saúde Pública da Universidade Cambridge, foi enfática ao dizer que este estudo não é uma licença para se encher de junk food, mas concordou que os resultados tornam o cenário nutricional mais complicado.
“É complicado no sentido de que algumas comidas que têm muita gorduras saturadas parecem reduzir doenças cardíacas.”
Segundo a investigadora, há fortes indícios de que comer oleaginosas algumas vezes por semana reduz o risco de problemas do coração, apesar de conterem gorduras saturadas e insaturadas. A professora afirma ainda que as provas disso são menos fortes em relação a laticínios, e vê poucos problemas no consumo de manteiga e leite.
Calorias
Deixando de lado as questões cardíacas, no que toca a manter a linha, as gorduras são más porque engordam, certo? Não necessariamente.
Um estudo recente produzido pelo Scandinavian Journal of Primary Health Care, intitulado “Alto consumo de gordura de laticínios ligado a menos obesidade”, questiona essa relação.
No estudo, os investigadores analisaram 1.589 suecos por 12 anos. Os que seguiram uma dieta baixa em gorduras – cortando na manteiga, leite e natas – tinham mais tendência a terem excesso de peso na região abdominal do que os que consumiam manteiga, leite e natas.
Uma das razões para isso pode ser o fato de que consumir gordura sacia-nos rapidamente, e por isso quando é cortada da dieta o que se faz é substituir (conscientemente ou não) essas calorias com outros alimentos. Com muita frequência, essa substituição vem sob a forma de hidratos de carbono como o pão branco e massas.
Apesar de tudo, isto não é uma luz verde para começar a comer fritos ou colocar natas em tudo: mesmo que o coração não seja, afinal, prejudicado pelo consumo de gorduras, já está provado que é sim afetado por uma alta ingestão de calorias.
“Acredito que a maioria das gorduras saturadas, especialmente a de alimentos processados, não são saudáveis”, disse Michael Mosley. “Mas voltei a consumir manteiga, iogurte grego e leite semi-gordo, além de estar a comer muito mais castanhas, nozes, peixes e vegetais”.
ZAP / BBC