A maioria das agressões homofóbicas denunciadas à rede ex aequo são de jovens no ensino secundário, agredidos múltiplas vezes, a maior parte das quais dentro da escola, e que levaram cinco adolescentes a tentar suicidar-se.
Os dados constam do mais recente relatório do Observatório da Educação, da rede ex aequo, a que a Lusa teve acesso, e que recebeu 20 denúncias entre janeiro de 2013 e dezembro de 2014.
Os participantes dividem-se entre oito raparigas e 12 rapazes, sendo a esmagadora maioria (15) homossexual e bissexual (4), sobretudo alunos (19), com idades entre os 16 e os 18 anos (45%) e os 22 e os 24 anos (25%).
“Se muitos alunos sofrem discriminação vinda dos seus colegas heterossexuais, outros sofrem-na também de homo ou bissexuais que adotam posturas homofóbicas para que nenhum dos seus colegas desconfie da sua orientação sexual”, lê-se no relatório.
Quinze jovens homossexuais disseram ter sido vítimas de homofobia, enquanto outros nove disseram ter sido alvo de comportamentos transfóbicos.
Entre o tipo de agressão homofóbica mais frequente, a maioria (16) foi vítima de agressões verbais, mas houve também 15 casos de agressões psicológicas e quatro de ataques físicos.
Nas agressões transfóbicas, a maioria também reporta a agressões verbais (10), logo seguida de oito agressões psicológicas (8) e uma física.
Segundo a rede ex aequo, “as agressões, por norma, não são algo pontual, mas sim a algo recorrente, ou pelo menos, com alguma repetição no quotidiano de muitas pessoas”.
Prova disso está o facto de, em 12 casos (60%), o jovem ter sido agredido mais de cinco vezes.
A maioria das denúncias feitas diz respeito a casos ocorridos no ensino secundário (11), logo seguido do terceiro ciclo do ensino básico (4) e do ensino superior (3).
Em 17 casos (85%), a agressão aconteceu dentro da escola e na maioria dos casos (16) os agressores são também alunos, apesar de haver quatro denúncias em relação a professores.
“Situações de discriminação/agressão acontecem nas nossas escolas e é urgente que se tomem medidas de apoio para a especificidade deste problema. Se, até à data da criação deste Observatório, não existiam dados concretos é justamente pela ausência de meios para o fazer”, aponta a rede ex aequo.
A maior parte (17) dos jovens que denunciou o seu caso através do Observatório admite, no entanto, que não apresentou queixa junto das autoridades e 12 dizem que lidaram sozinhos com o que se passou.
“Os dois jovens que apresentaram queixa afirmam que foi efetuada por iniciativa sua (…) e ambos referem que as queixas não tiveram resultados positivos“, conta no relatório.
Por outro lado, cinco dos 20 participantes admitiram ter tentado suicidar-se, enquanto outros sete auto-mutilaram-se. Houve também 15 jovens que disseram que os casos de agressão tiveram como consequência diminuir a sua autoestima, outros 16 que admitiram ter-se isolado e ainda em oito casos houve ideias suicidas.
Também como consequência das agressões, há cinco jovens que dizem ter abandonado a escola, “o valor em percentagem (25%) mais alto desde que existe o Observatório”.
A rede ex aequo é uma associação de apoio para jovens lésbicas, gays, bissexuais, trans, intersexo e apoiantes entre os 16 e os 30 anos. O Observatório da Discriminação foi criado em 2006 e apresenta relatório de dois em dois anos.
A 17 de maio assinala-se o Dia Internacional de Luta contra a Homofobia e a Transfobia.
/Lusa