Investigadores do Porto estão a estudar um método para transformar medicamentos sólidos em líquidos, de forma a aumentar a sua eficácia e resistência e torná-los mais fáceis de serem ingeridos ou administrados.
Um dos problemas dos fármacos, independentemente da patologia a que se destinam”, é a “baixa eficácia” originada pela resistência desenvolvida pelos agentes patogénicos aos medicamentos, como acontece com os antibióticos, disse a professora Paula Gomes, do Departamento de Química e Bioquímica da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (DQB-FCUP), envolvida no projeto.
Essa baixa eficácia deve-se, igualmente, à “reduzida percentagem do medicamento que chega realmente ao local de acção“, acrescentou a também investigadora do LAQV-REQUIMTE, um laboratório da Universidade do Porto e da Universidade Nova de Lisboa.
Existem ainda outros problemas que dificultam a sua administração de medicamentos injetáveis, por exemplo, que não se dissolvem completamente no veículo líquido, tendo que ser injetados sob a forma de suspensão (como as injeções de penicilina), método que “é muito doloroso”.
Para além disso, um número considerável de pacientes sente dificuldade em tomar pastilhas ou comprimidos grandes, o que, segundo a professora, se torna mais evidente em crianças ou no uso veterinário.
Segundo a cientista, o método proposto no projeto “iLiquid” para contornar os problemas pretende converter os “medicamentos sólidos problemáticos” em sais líquidos, através de liquefação iónica, um processo que considera “rápido, simples e de baixo custo”.
De acordo com Paula Gomes, os medicamentos líquidos não terão os mesmos problemas de administração que os sólidos e, caso tenham a formulação certa, poderão apresentar um cheiro e um sabor mais agradáveis.
Por serem “ligeiramente diferentes dos medicamentos originais”, poderão ainda ser melhor absorvidos e “iludir” os micróbios resistentes, tendo, assim, uma maior eficácia.
Resultados positivos
A investigadora contou que a equipa de especialistas já conseguiu resultados “muito positivos” com sais líquidos preparados a partir de ampicilina – pertencente ao grupo da penicilina e utilizada para tratar bactérias -, que se revelaram “eficazes” contra bactérias resistentes a esse fármaco.
Num estudo mais recente, os cientistas prepararam sais líquidos com base em primaquina, um antiparasítico usado na prevenção e no tratamento da malária, que demonstraram resultados contra três fases do ciclo de vida do parasita, ao passo que o medicamento original é apenas ativo contra duas dessas fases.
A equipa está também a trabalhar na aplicação deste conceito à criação de sais líquidos potencialmente úteis no combate a coinfeções “muito comuns em regiões de contexto socioeconómico desfavorecido”, nomeadamente a malária, o HIV e a tuberculose.
ZAP // Lusa