Cientistas testam “caviar” e ficam alarmados com o que encontram

Rachel Claire // Pexels

Um estudo revelou que muitas amostras de caviar e carne de esturjão são fraudulentas ou ilegais. As espécies selvagens de esturjão na Europa estão ameaçadas e são protegidas por lei.

Num novo estudo, publicado na revista Current Biology, uma equipa de investigadores examinou cerca de 150 amostras de caviar comercial e carne de esturjão.

As amostras são provenientes de quatro países diferentes — Bulgária, Roménia, Sérvia e Ucrânia — perto de algumas das últimas populações selvagens da espécie de peixe.

Os autores do estudo descobriram que algumas das ovas de peixe não continham vestígios de esturjão o que significa, tecnicamente, que não contam como caviar, apenas como ovas.

O mais importante, no entanto, é a legalidade. O esturjão está fortemente ameaçado e, por isso, apenas o caviar proveniente de esturjão cultivado pode ser vendido internacionalmente.

Mas a proporção impressionante de amostras ilegais identificadas pelos investigadores sugere que os esforços para proteger as espécies selvagens do peixe estão a ficar muito aquém das expetativas.

“Os nossos resultados indicam uma procura contínua de produtos de esturjão selvagem, o que é alarmante, uma vez que estes produtos põem em perigo as populações de esturjão selvagem”, dizem os investigadores no estudo.

Encontrado apenas no rio Danúbio e no Mar Negro, existem apenas quatro espécies de esturjão produtor de caviar na Europa e todas elas estão protegidas pela Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies da Fauna e da Flora Selvagens Ameaçadas de Extinção (CITES) desde 1998.

No entanto, apesar desta proteção, a análise do ADN e dos padrões isotópicos das amostras revelou que 21% do caviar provinha de esturjões selvagens — ou seja, é considerado suspeito e ilegal.

Ainda assim, uns 2% revelaram-se totalmente falsos, provenientes de peixe-gato, em vez de esturjão.

Ainda assim, 29% destes produtos violaram os regulamentos da CITES ao rotularem o caviar com informação incorreta sobre a sua espécie e país de origem.

Por sua vez, 32% constituiu uma “fraude ao consumidor”, na maioria dos casos, o que significa que foram comercializados como sendo selvagens quando, na realidade, provinham de uma exploração piscícola.

De acordo com os investigadores, é uma espécie de segredo aberto o facto de estes produtos “selvagens” — falsos ou não — serem vendidos com pouca resistência.

Segundo o The Byte, o facto de existir uma grande procura, deve fazer com que os legisladores e os defensores da conservação do meio ambiente se preocupem bastante.

E, como observam os investigadores, os reguladores europeus não podem acusar a caça furtiva estrangeira.

“Embora a caça furtiva e o comércio ilegal de animais selvagens sejam muitas vezes considerados um problema dos países em desenvolvimento, estes resultados provam que uma elevada percentagem de produtos de esturjão provenientes da UE e dos países candidatos à adesão”, explicam os investigadores.

“O controlo do comércio de caviar e de esturjão na UE e nos países candidatos necessita urgentemente de ser melhorado para garantir que as populações de esturjão do Danúbio tenham futuro”.

Da próxima vez que comer caviar, será que está mesmo a comer caviar? Eis a questão.

Teresa Oliveira Campos, ZAP //

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