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Cientistas procuraram matéria escura na Via Láctea, mas só encontraram o vazio

D. Minniti / VVV Survey / ESO

Uma análise dos dados brutos da Via Láctea colhidos ao longo de 20 anos pelo telescópio espacial de raios-X XMM-Newton fez com que uma das principais hipóteses de matéria escura fosse descartada.

Três jovens físicos dos Estados Unidos afirmam que os sinais previamente registados como provenientes da matéria escura foram mal interpretados nos últimos anos.

“A matéria escura pode consistir em formas previamente desconhecidas de partículas subatómicas”, sugeriram os cientistas, no estudo publicado em março na revista científica Science. Os neutrinos obtidos em condições de laboratório não são os melhores candidatos para os ingredientes da matéria escura, assim como o hipotético neutrino estéril, outra partícula semelhante sem carga.

Os autores destacam um estudo de 2014 que vinculou a matéria escura a emissões enigmáticas de raios X de outras galáxias. Porém, esta nova equipa de físicos da Universidade de Michigan e da Universidade da Califórnia focou-se na nossa galáxia, a Via Láctea, e prestou atenção especial às “regiões do céu em branco” (totalmente escuras) para que pudesse registar alguma radiação semelhante na matéria escura mais próxima de nós. Se consistisse em neutrinos, também nos enviaria raios-x à medida que essas partículas se decompõem.

“Para onde quer que olhemos, deve haver um fluxo de matéria escura da auréola da Via Láctea”, explicou Nicholas Rodd, em comunicado. “Explorámos o facto de vivermos num halo de matéria escura”.

O grupo estabeleceu um tempo total de exposição de aproximadamente um ano e testou a hipótese acima, mas sem sucesso. Não havia sinal esperado nos registos e o resultado da análise tornou-se inconsistente com a possibilidade de atribuir a fonte de raios-X à matéria escura.

O co-autor Benjamin Safdi assegura que esta “descoberta não significa que a matéria escura não seja feita de um neutrino estéril, mas que, ao contrário do que foi afirmado em 2014, até ao momento não há evidências experimentais das+ sua existência”.

Safdi também comentou, em declarações ao Vice, que, se os neutrinos estéreis estivessem a desintegrar-se em torno da nossa galáxia, teriam deixado uma pegada extremamente brilhante no conjunto de dados telescópico. Porém, a investigação revelou “apenas espaço vazio”.

O estudo de 2014 provocou um debate sobre se a emissão registada veio de matéria escura ou matéria comum dentro das galáxias. Ainda é provável que esses raios fossem de elementos específicos dentro dos gases quentes ou interações entre o plasma quente e as nuvens de gás frio.

Tanto a matéria escura como a antimatéria têm tirado o sono aos cientistas. O mundo em que vivemos é apenas feito de matéria, apesar de o Big Bang dever ter criado quantidades iguais de matéria e antimatéria.

Em relação à matéria escura – que compõe cerca de 80% de toda a matéria do Universo – as observações astronómicas mostram que uma massa desconhecida está a influenciar as órbitas das estrelas nas galáxias, mas ninguém foi capaz de determinar as propriedades microscópicas exatas destas partículas. Aliás, só sabemos da existência da matéria escura devido ao efeito gravitacional que causa na matéria visível, denunciando o seu “rastro”.

Há alguns cientistas que defendem que a matéria escura é composta por uma partícula elementar hipotética – o axião – que desempenha um papel importante para explicar os misteriosos “buracos” no Modelo Padrão da Física de Partículas.

Este novo estudo deixa os cientistas com duas incógnitas para serem resolvidas: as origens desse brilho misterioso e a verdadeira identidade da matéria escura.

ZAP //

 

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