Cientistas já sabem como as presas evoluíram

(dr) Marlene Hill Donnelly

Reconstrução artística do dicinodonte

Reconstrução artística do dicinodonte

São vários os animais que têm presas, como os elefantes e as morsas, e todos têm em comum o facto de serem mamíferos. Agora, uma equipa de paleontólogos tentou perceber como é que estes dentes alongados evoluíram.

“Conseguimos mostrar que as primeiras presas pertenciam a animais que viveram antes dos mamíferos modernos, os chamados dicinodontes. Eram animais muito estranhos”, disse, em comunicado, Ken Angielczyk, curador do Chicago’s Field Museum e um dos autores da pesquisa.

A maioria dos dicinodontes viveu antes dos dinossauros, entre há cerca de 270 a 201 milhões de anos, e eram animais que podiam variar do tamanho de um rato ao de um elefante. Desde a sua descoberta, há 176 anos, uma das principais características que os define tem sido o par de presas salientes nos seus maxilares superiores, tanto que o seu nome significa “dois dentes caninos”.

A ideia para estudar a origem das presas aconteceu durante uma escavação paleontológica na Zâmbia, quando os investigadores estavam rodeados de dentes de dicinodonte. “Lembro-me de o Ken perguntar por que razão eram chamados de presas, se tinham características que estas não têm”, recordou Megan Whitney, investigadora da Universidade de Harvard e autora principal do estudo publicado na revista científica Proceedings of the Royal Society B.

Como é um “termo surpreendentemente ambíguo“, a equipa teve, em primeiro lugar, de definir o que é uma presa, tendo decidido que para isso tem de estender-se para além da boca, deve continuar a crescer ao longo da vida do animal e, ao contrário dos dentes da maioria dos mamíferos (incluindo os nossos), as suas superfícies têm de ser feitas de dentina, em vez de esmalte.

Com base nestes parâmetros, alguns dos dentes de dicinodonte observados pela equipa na Zâmbia não encaixavam na definição de presa. Afinal, alguns deles eram revestidos de esmalte, em vez de dentina.

Para estudar se as presas de dicinodontes eram realmente presas, os cientistas cortaram fatias muito finas de dentes fossilizados de 19 espécimes de dicinodontes, que representavam dez espécies diferentes, e examinaram a sua estrutura com um microscópio. Também usaram microtomografias para examinar como os dentes estavam presos ao crânio e para perceber se as suas raízes mostravam evidências de um crescimento contínuo.

Os cientistas descobriram que alguns dentes de dicinodonte eram de facto presas, enquanto outros, especialmente os de algumas das espécies anteriores, eram apenas dentes grandes.

“Eu estava à espera que houvesse um ponto na árvore genealógica em que todos os dicinodontes passavam a ter presas. Por isso, fiquei muito surpreendida quando vi as presas a evoluírem de forma convergente”, declarou Whitney.

“As presas de dicinodonte podem dizer-nos muito sobre a evolução das presas dos mamíferos no geral. Por exemplo, este estudo mostra que as taxas reduzidas de substituição do dente e o ligamento flexível que prende o dente ao maxilar são necessários para que as verdadeiras presas evoluam. Tudo leva a uma melhor compreensão das presas que vemos nos mamíferos de hoje em dia”, concluiu Angielczyk.

ZAP //

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