A monitorização do desempenho dá às pessoas a capacidade de aprender com os seus erros e fracassos. Um grupo de cientistas identificou agora os neurónios responsáveis por aprendermos com esses erros.
Quantas vezes já disse palavras da boca para fora, apenas para logo a seguir se arrepender? Os cientistas encontraram uma explicação.
Segundo a Cosmos Magazine, este é um fenómeno conhecido como monitorização do desempenho, um sinal interno produzido pelo cérebro que permite perceber quando se comete um erro.
A monitorização do desempenho é uma espécie de feedback, que é essencial para gerir a vida no quotidiano. Agora, neurocientistas descobriram que os sinais dos neurónios no córtex frontal medial do cérebro são responsáveis por este fenómeno.
Um novo estudo, publicado este mês na Science, relata que estes sinais são usados para dar aos humanos a flexibilidade para aprenderem novas atividades e o foco para desenvolverem competências altamente específicas.
“Parte da magia do cérebro humano está na capacidade de ser muito flexível“, diz Ueli Rutishauser, professor de Neurocirurgia, Neurologia, e Ciências Biomédicas no Centro Médico Cedars-Sinai, EUA, e autor principal do artigo.
“Concebemos o nosso estudo para decifrar como o cérebro pode generalizar e especializar-se ao mesmo tempo, sendo ambos fundamentais para nos ajudar a alcançar um objetivo”, acrescenta o investigador.
Os neurocientistas descobriram que os sinais de monitorização do desempenho ajudam a melhorar futuras tentativas de uma determinada tarefa, passando a informação para outras áreas do cérebro.
A monitorização do desempenho ajuda também o cérebro a ajustar o foco, assinalando quantos conflitos ou dificuldades foram encontrados durante a tarefa.
Aquele momento, quando se apercebe, que algo não deveria ser dito ou feito, pode levar a prestar mais atenção na próxima vez que conversar com alguém ou desempenhar uma tarefa, explica o primeiro autor Zhongzheng Fu, investigador no Laboratório Rutishauser em Cedars-Sinai.
A equipa registou a atividade de mais de 1000 neurónios nos córtices frontais mediais de pacientes com epilepsia humana (que tinham implantes de elétrodos cerebrais para ajudar a localizar o foco das suas convulsões) enquanto realizavam tarefas cognitivas complexas.
Na primeira tarefa, chamada Efeito Stroop, foram testadas as capacidades de leitura e de nomeação de cor dos participantes. Ao ver o nome escrito da cor, como “vermelho”, impresso na tinta de uma cor diferente, como o azul, foi-lhes pedido que dessem o nome da cor da tinta em vez da palavra escrita.
Na segunda tarefa — a Tarefa de Interferência de Fontes Múltiplas (MSIT) — foram mostrados três dígitos num ecrã (dois repetidos e um único) e os participantes tiveram de premir um botão associado ao número único enquanto resistiam à tendência de premir o outro (porque aparece duas vezes).
Os investigadores observaram que dois tipos de neurónios pareciam estar a trabalhar: neurónios “de erro”, que disparavam fortemente depois de um erro ter sido cometido, enquanto os neurónios “de conflito” eram disparados em resposta à dificuldade da tarefa.
“Quando observámos a atividade dos neurónios nesta área cerebral, surpreendeu-nos que a maioria deles só se tornasse ativa depois de uma decisão ou de uma ação ter sido completada”, diz Fu.
“Isto indica que esta área cerebral desempenha um papel na avaliação das decisões após o facto, em vez de as tomar”.
Os cientistas sabem que há já algum tempo que existem dois tipos de monitorização do desempenho — domínio geral e domínio específico.
A monitorização do desempenho do domínio geral diz-nos QUANDO algo corre mal, o que permite que as pessoas executem novas tarefas com pouca informação.
A monitorização específica do domínio diz-nos O QUE É que correu mal, e é uma forma de as pessoas aperfeiçoarem as suas capacidades individuais.
Anteriormente pensava-se que os diferentes neurónios responsáveis por estas duas formas estavam localizados em partes distintas do cérebro, mas o estudo permitiu concluir que eles estão de facto entremeados no córtex frontal medial.
De acordo com Rutishauser, a compreensão dos mecanismos por trás da monitorização do desempenho é fundamental para aperfeiçoar o tratamento de certas perturbações psiquiátricas extremas — por exemplo, a perturbação obsessiva compulsiva e a esquizofrenia.