Os cientistas estão a recorrer às fezes de baleia sintéticas para restaurar a cadeia alimentar marinha e estimular a absorção de dióxido de carbono.
A caça industrial à baleia no século XX devastou os ecossistemas oceânicos, levando muitas espécies de baleias à extinção e perturbando o ciclo vital dos nutrientes. A remoção de milhões de baleias dizimou as fezes de baleia, ricas em nutrientes, nas redes alimentares marinhas, afetando gravemente a produtividade dos oceanos e o sequestro de carbono.
Agora, os cientistas da WhaleX Foundation e de outras iniciativas são pioneiros na utilização de fezes de baleia sintéticas para restaurar estas funções ecológicas perdidas e ajudar a combater as alterações climáticas.
As baleias desempenham um papel fundamental nos ecossistemas oceânicos, alimentando-se em profundidade e defecando mais perto da superfície, onde nutrientes como o azoto, o ferro e o fósforo enriquecem as águas pobres em nutrientes, estimulando a proliferação de fitoplâncton.
O fitoplâncton, a base da cadeia alimentar marinha, não só sustenta a vida oceânica como também absorve o dióxido de carbono da atmosfera, que pode depois ser sequestrado no fundo do mar. No entanto, o declínio acentuado das populações de baleias implicou uma redução destas plumas ricas em nutrientes, dificultando este processo natural de captura de carbono, explica a Smithsonian Mag.
Para resolver este problema, a WhaleX desenvolveu fezes de baleia sintéticas, uma mistura rica em nutrientes concebida para imitar a composição dos resíduos de baleias reais. Em dezembro de 2021, a WhaleX testou a solução libertando 30 litros no Mar da Tasmânia, na Austrália.
Os seus próximos ensaios, previstos para 2025, envolverão biopods – cilindros que retêm nutrientes à superfície, onde estimulam o crescimento do fitoplâncton e permitem aos cientistas medir a eficiência da captura de carbono.
Estão a decorrer iniciativas semelhantes a nível mundial. O projeto de Regeneração da Biomassa Marinha, liderado por David King da Universidade de Cambridge, utiliza poeiras densas em nutrientes misturadas com cascas de arroz para criar uma presença prolongada à superfície para o crescimento do fitoplâncton.
A equipa prepara-se para libertar poeiras vulcânicas e glaciares para testar o seu impacto na proliferação de plâncton nos oceanos que rodeiam ilhas do Pacífico como Tonga e Tuvalu, zonas afectadas pelo declínio das populações de peixes.
No entanto, estas experiências enfrentam obstáculos científicos e regulamentares. Os especialistas sublinham a importância de avaliar os impactos ecológicos dos nutrientes sintéticos desde a superfície do oceano até ao fundo do mar. Os regulamentos legais, como a Convenção de Londres, também restringem os ensaios em grande escala até que se demonstre que os nutrientes sintéticos não têm efeitos nocivos nos ecossistemas marinhos.
Apesar dos desafios, os cientistas continuam opimistas quanto ao potencial das fezes de baleia sintéticas para restaurar os ecossistemas oceânicos e reduzir o dióxido de carbono na atmosfera.