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Cientistas alertam para “epidemia silenciosa” de perturbações neurológicas

D. Sharon Pruitt / Flickr

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Dois dos maiores especialistas mundiais na ligação entre o ambiente e a saúde alertam que os químicos industriais a que as crianças estão sujeitas diariamente podem estar a provocar uma “epidemia silenciosa” de perturbações do desenvolvimento.

O alerta surge na revista científica The Lancet Neurology e os autores apelam aos países que mudem os seus procedimentos de avaliação dos riscos dos químicos para proteger as crianças destas toxinas.

Em causa estão químicos como o mercúrio, o chumbo e certos solventes e pesticidas, que estão presentes em objetos tão comuns como a roupa, o mobiliário ou os brinquedos.

“Os cérebros em desenvolvimento são particularmente vulneráveis aos químicos tóxicos no ambiente”, diz Philippe Grandjean, da Escola de Saúde Pública de Harvard, em Boston.

“Enquanto não existir um requisito legal para que os fabricantes provem que todos os químicos industriais existentes e todos os novos químicos são não-tóxicos antes de entrarem no mercado, na linha da lei da União Europeia [para o registo, avaliação, autorização e restrição] dos químicos, REACH, enfrentamos uma pandemia de toxicidade para o desenvolvimento neurológico“. Por isso, os autores propõem uma “estratégia global de prevenção”.

As perturbações do desenvolvimento neurológico, como o autismo, o défice de atenção, a dislexia ou a paralisia cerebral, afetam uma em cada seis crianças em todo o mundo, havendo cada vez mais provas que ligam a exposição a químicos na infância a níveis mais altos destas doenças.

Legislação apertada é uma solução

Um controlo mais apertado da utilização destes químicos permitiria poupar milhões de dólares, alertam os autores, recordando que os custos anuais do tratamento do envenenamento por chumbo nos EUA, por exemplo, são de cerca de 50 mil milhões de dólares (cerca de 35 mil milhões de euros).

Mas Grandjean e o co-autor do artigo, Philip Landrigan, da Escola de Medicina Monte Sinai, em Nova Iorque, sublinham que este número poderá ser apenas a ponta do icebergue.

“A vasta maioria dos mais de 80 mil químicos industriais utilizados nos EUA nunca foram testados nos seus efeitos tóxicos para o desenvolvimento do feto ou da criança. A exposição a estes químicos durante as fases iniciais do desenvolvimento pode causar danos cerebrais em níveis muito mais baixos do que os que afetam os adultos e o real impacto na saúde das crianças só agora está a começar a revelar-se”, referem.

Os dois maiores obstáculos aos esforços para limitar os químicos que ameaçam a saúde das crianças são as grandes falhas nos testes à sua toxicidade para o desenvolvimento neurológico e a enorme quantidade de provas exigidas para que se possa regulamentar.

“A única forma de reduzir a contaminação tóxica é tornar obrigatórios os testes à sua toxicidade para o desenvolvimento neurológico dos químicos novos e já existentes”, diz Landrigan.

“Uma abordagem cautelosa deste género significaria que uma indicação prévia de potenciais efeitos tóxicos graves levaria a uma regulamentação forte, que poderia depois ser atenuada se provas subsequentes demonstrassem que os danos eram menos graves”, acrescenta.

Os autores propõem uma estratégia internacional de prevenção que ponha o ónus nos produtores de químicos, e não nos governos, de provarem que os seus produtos são de baixo risco, usando um processo semelhante ao que é exigido às farmacêuticas, e uma nova agência reguladora internacional para coordenar e acelerar estas medidas.

“O número total de substâncias neurotóxicas atualmente reconhecidas é quase certamente uma pequena parte do verdadeiro número de substâncias tóxicas para o desenvolvimento neurológico libertadas para o ambiente global”, dizem.

“A nossa grande preocupação é que as crianças de todo o mundo estejam expostas a químicos tóxicos não reconhecidos que estão silenciosamente a corroer a inteligência, a perturbar o comportamento, a truncar as conquistas futuras e a danificar as sociedades, talvez mais seriamente nos países em desenvolvimento”.

/Lusa

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