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Conto de fadas ou inferno verde? A história da cidade ambientalista que foi processada pelo McDonald’s

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Tübingen, Neckarfront am Hölderlinturm / Wikimedia

No sudoeste da Alemanha, aninhada entre os Alpes da região da Suábia e o densamente arborizado parque natural Schönbuch, está Tübingen, uma cidade universitária que deixaria a maioria dos cenários da Disney no chinelo.

A cidade é construída em torno do centro histórico quase perfeitamente preservado, com suas ruelas de paralelepípedos, casas antigas de madeira e canais ondulantes. (Enquanto que os centros históricos da maioria das cidades alemãs foram destruídos durante a Segunda Guerra Mundial, apenas uma bomba caiu em Tübingen.)

O rio Neckar corre pelo centro da cidade, formando uma pequena ilha — Neckarinsel —, que fica coberta de flores na primavera e resplandece dourada no outono.

Tübingen fica na Suábia, uma região alemã famosa pela sua frugalidade — e que também é um dos pontos mais ensolarados do país, tornando-a consideravelmente mais alegre do que outras partes que apresentam um clima mais nublado e chuvoso.

Como uma cidade académica, é pequena, mas ainda assim dinâmica. “Para o tamanho da cidade, acho-a incrivelmente internacional”, diz Nele Neideck, que administra uma comunidade de expatriados.

Estive em Tübingen pela primeira vez há oito anos para visitar um amigo e, à primeira vista, a cidade parecia um conto de fadas, com a sua paisagem idílica e atmosfera jovem — dos 90 mil moradores, mais de 27 mil são estudantes da Universidade de Tübingen.

Atravessamos rios caudalosos, deliciamo-nos com especialidades da Suábia e viajamos para festas em autocarros cheios de estudantes. Quando me despedi desta cidade peculiar, nunca imaginei que anos depois .

Mas é isso que Tübingen faz: atrai-te e, antes que percebas, a facilidade de viver num lugar tão pequeno e vibrante com este faz com que nunca queiras sair. Não é só isso, no entanto, que caracteriza Tübingen: é também uma cidade inovadora, verde e permite a existência de estilos de vida alternativos.

Uma cidade académica

Para contextualizar a singularidade da cidade, Tübingen foi um dos centros dos protestos estudantis alemães de 1968, que ocorreram em toda a Alemanha Ocidental contra o tradicionalismo e a autoridade, o que influenciou a sensibilidade esquerdista e ambientalista da cidade.

“Em Tübingen, há iniciativas de habitação autogovernadas, em que as refeições e as compras de supermercado são organizadas coletivamente, e são principalmente veganas”, explica Jenny Bröder, que mora em Tübingen há 12 anos e trabalha na universidade.

“As pessoas que administram e vivem nestas moradias são muitas vezes politicamente ativas, cultivam uma consciência para temas sociais e ecológicos e contribuem para a cena cultural organizando espetáculos, palestras, festivais e festas. A comida oferecida nestes eventos geralmente também é vegana.”

Na verdade, muita gente que conheci desde que me mudei para cá é vegetariana ou vegana, e é tão comum perguntar se alguém come carne quanto perguntar se tem alergias. Tübingen é, inclusive, um dos participantes oficiais do Veganuary, o desafio anual que incentiva as pessoas a serem veganas no mês de janeiro.

“A nossa oferta vegetariana do dia esgota-se muito mais rápido do que a oferta de carne”, conta Alok Damodaran, que tem uma roulote de comida do sul da Índia na cidade. Isso é significativo num país que é conhecido pela sua salsicha.

Políticos verdes fazem parte do Conselho Distrital desde 1979. E como um terço de sua população é de estudantes, a cidade abriga uma comunidade educada que é consciente em relação às questões ambientais. É este espírito jovem e enérgico que permite que a sustentabilidade seja funcional.

Por exemplo, Amelie Dietenberger e Kajetan Krott começaram a fazer pão de banana vegano durante a pandemia de covid-19 — primeiro fazendo entregas individuais, e depois criando um negócio que abastece vários cafés.

“Tübingen tem uma certa sensação de ser verde e feliz, e tem muitos jovens, o que se encaixa no nosso projeto”, afirma Dietenberger. “As pessoas são tão solidárias porque se trata de uma iniciativa local e apreciam especialmente que façamos as entregas num carro elétrico”.

Sedat Yalcin abriu a Ada Bakery na cidade depois de ter feito um programa de intercâmbio há vários anos, e agora gere-a com a sua esposa, Aysenur-Sarcan Yalcin. Enquanto a Alemanha é famosa por seus döner kebab e shawarmas, na padaria de Yalcin praticamente toda a comida é vegetariana ou vegana.

Há böreks (espécie de salgado folhado) deliciosos recheados com espinafre, batatas, berinjelas, tahine e queijo, assim como simits, um pão turco redondo, e saladas fartas. “Todas as noites acaba tudo”, revela Yalcin. “Uma padaria turca vegetariana funciona aqui por causa de todos os estudantes, mas também das pessoas que são daqui, que se preocupam com o meio ambiente.”

Na linha da frente da ecologia

Tübingen também está a ser constantemente revitalizada e modernizada para ser cada vez mais ecológica. Ciclovias amplas e bem integradas, junto com taxas altas de estacionamento, tornam a cidade bastante hostil para carros.

Um decreto aprovado em fevereiro de 2022 declarou que os carros não vão poder circular mais na rua central da cidade, que será reservada para autocarros e bicicletas.

Os estudantes podem andar de autocarro gratuitamente nos fins de semana e depois das 19h todas as noites, enquanto as viagens de autocarros são gratuitas para todos aos sábados. (O governo local planeia, inclusive, tornar os autocarros gratuitos o tempo todo.)

Tübingen tem um gasto per capita três vezes maior em infraestrutura para bicicletas do que Copenhaga, na Dinamarca, de acordo com Boris Palmer, autarca da cidade.

E, no início de 2022, Tübingen tentou elevar ainda mais o status verde da cidade, impondo uma nova taxa — e tornando-se a primeira cidade na Alemanha a implementá-la.

O chamado Verpackungssteuer (imposto de embalagem) previa um pagamento extra de cinquenta cêntimos para qualquer embalagem descartável, como copos de café, embalagens de gelado e pratos para refeição. No caso de talheres descartáveis ​​— como garfos, facas e colheres —, o custo era de vinte cêntimos a mais.

Até as caixas de pizza e o papel alumínio usado para embalar um falafel para viagem eram tributados.

Independentemente de serem feitos de material sustentável ou reciclado, qualquer coisa de uso único era mais cara, com base no princípio de que a não produção era melhor do que a reciclagem ou desperdício futuros.

O imposto teve um início promissor: as primeiras semanas resultaram em até 15% menos resíduos nas lixeiras da cidade. Inicialmente, tanto os moradores quanto as empresas de Tübingen mostraram-se à altura do desafio.

As pessoas começaram a adquirir o hábito de levar os seus próprios talheres, e os restaurantes começaram a fornecer pratos reutilizáveis.

“Parei de ter pratos descartáveis”, contou Naresh Taneja, dono há 30 anos do restaurante indiano vegano Maharaja em Tübingen, quando o imposto foi implementado. “Já estávamos a incentivar nossos clientes a trazerem as suas próprias marmitas, e esse imposto ajudou ainda mais.”

O processo do McDonald’s

De acordo com Yalcin, o governo local forneceu assistência para que fizessem face ao imposto de embalagem e ajudou-os a comprar lava-louças e talheres reutilizáveis. Mas a regra não foi bem recebida pelo único McDonald’s de Tübingen, que processou a cidade por causa do imposto.

Com mais de 1,5 mil restaurantes em todo o país, o McDonald’s afirma que é difícil customizar soluções e defende uma estrutura uniforme, no lugar das diferentes regras entre as cidades.

“Concordamos que a melhor embalagem é aquela que não é produzida em primeiro lugar. Mas os caminhos especiais locais de cidades ou comunidades individuais impedem um conceito nacionalmente bem sucedido e implementável”, afirmou um porta-voz da empresa, à medida que a companhia realiza testes para um sistema próprio de embalagens reutilizáveis.

O caso foi julgado em março, e o McDonald’s saiu vitorioso — mas cabe recurso.

Não é, no entanto, a primeira vez que o McDonald’s é um obstáculo a este tipo de movimento. O imposto de embalagem foi proposto na cidade alemã de Kassel na década de 1990, mas um processo do McDonald’s anulou a tentativa.

“Acreditamos que uma cidade tem o direito de criar tal imposto, e até mesmo uma grande empresa tem que aceitar isso. Não consigo acreditar por que uma empresa internacional não pode mudar para reutilizáveis ​​se todas as pequenas empresas podem fazer isso”, afirmou Palmer, antes do caso ser julgado.

Nomeado presidente da Câmara Municipal em 2007, ele é considerado por muitos como responsável por moldar as políticas verdes de Tübingen, como os painéis solares fotovoltaicos obrigatórios nos telhados e os autocarros gratuitos aos sábados.

“Vimos uma redução na emissão de dióxido de carbono per capita em 40% nos últimos 15 anos, enquanto a economia de Tübingen cresceu 40%”, diz ele. “Isso dá-nos esperança de que pode haver uma maneira de superar o aquecimento global e continuar a crescer.”

Embora muitas lições possam ser aprendidas com o modelo de Tübingen, talvez seja difícil reproduzir as conquistas da cidade, uma vez que elas emergem de um cenário único de apoio político e social.

Alguns receiam que Tübingen corre o risco de ir longe demais: um artigo da Spiegel de 2011 descreveu o French Quarters, um dos bairros mais verdes da cidade — e do país — como um “inferno verde“, apresentando os seus moradores como intolerantes e hipocritamente sustentáveis.

Além disso, muitos acham que Tübingen é académica demais para ser considerada um exemplo do mundo real. “Vai ficar muito na bolha académica se morar lá”, diz Kathi Winkler, que viveu em Tübingen por vários anos antes de se mudar para Berlim.

No entanto, o exemplo de Tübingen mostra que abrir caminho para um planeta mais verde pode ser alcançado em pequena escala, provando que o pequeno pode ser poderoso, bonito e inspirador.

ZAP // BBC

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2 Comments

    • Pra quê??? Para desembarcar os GI joes do oncle Sam ameaçando com invasão militar????

      Não seria a primeira vez que fariam isso

      Ora vejam que a justiça norte americana faz a lei nos outros países

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