As chimpanzés fêmeas podem não ter um grande poder nas sociedades patriarcais mas sabem, certamente, como proteger os seus bebés. De acordo com um novo estudo, as chimpanzés (Pan troglodytes) são extremamente sensíveis às mudanças sociais e usam essa capacidade para proteger os seus filhos.
Segundo a investigação, publicada nesta semana na revista American Journal of Physical Anthropology, as chimpanzés são capazes de identificar quais são os machos da população que representam maior perigo para os seus bebés e, cientes disto, descobriram uma forma de evitar ou manipular os machos mais poderosos.
O infanticídio – assassinato de espécimes ainda bebés – é uma ocorrência comum entre os chimpanzés, apesar de os cientistas ainda não terem um explicação concreta que explique um comportamento tão brutal.
“Ver os chimpanzés a matar bebés é realmente chocante e, embora este comportamento já tenha sido descrito várias vezes, não é totalmente claro por que o fazem”, disse a principal autora, Adriana Lowe, investigadora do comportamento das fêmeas de chimpanzé da Universidade de Kent citada pelo Science Alert.
De acordo coma hipótese da seleção sexual, e tendo em conta que os chimpanzés machos não matam a sua própria descendência, o infanticídio pode ser uma forma de assegurar a proeminência social e genética, acreditam os cientistas.
Na prática, ao matar um bebé de outro chimpanzé, substituindo-o por um da sua descendência, o chimpanzé macho pode subir na hierarquia da sociedade – que é, na sua grande parte, distribuída de acordo com o sucesso do acasalamento. No entanto, se um macho subir rapidamente na hierarquia, é provável que chegue as fileiras do topo rodeado por pequenos chimpanzés que não são os seus.
E foi a partir desta suposição que Lowe e a sua equipa começaram a investigar, recolhendo dados sobre o comportamento social de chimpanzés fêmeas na floresta de Budongo, no Uganda, região onde o infanticídio é especialmente comum.
A partir das observações, os especialistas perceberam que as chimpanzés são muito atentas à dinâmica social da sua comunidade, chegando mesmo a adaptar o seu comportamento face ao ambiente social.
A equipa comparou o comportamento das fêmeas em dois períodos distintos: durante um período de relativa estabilidade social e durante um outro com alguma instabilidade – quando um macho sobre rapidamente na hierarquia. Perante as observações, os investigadores concluíram que estas fêmeas são muito mais defensivas no cenário de maior instabilidade.
Durante o período de agitação social, os chimpanzés maternos, especialmente aqueles que tinham bebés ou descendentes ainda jovens, tendiam a evitar contactar com os machos sedentos de poder. Desta forma, mantendo-se mais distanciadas das principais disputas sociais, estas mães conseguiam limitar o risco de infanticídio.
Mas foi identificada ainda outra técnica, igualmente inteligente. Algumas chimpanzés foram observadas a interagir com chimpanzés macho de alto nível hierárquico durante os períodos de instabilidade. Esta poderosa manobra podia também garantir a segurança dos seus bebés face ao ataque de outros agressores.
A nova investigação não vem apenas reiterar a inteligência destes primatas, como também valida a hipótese da seleção sexual levantada pelos cientistas. “O comportamento das mães apoia a hipótese de que o infanticídio é uma estratégia utilizada pelos machos para obter mais oportunidades de acasalamento”, explicou Lowe.
“Os chimpanzés machos são frequentemente descritos como grandes políticos, uma vez que usam alianças complexas para competir por posições mais altas. No entanto, o estudo mostra que as fêmeas estão igualmente sintonizadas com o ambiente social, observando os machos discretamente, sensíveis e atentas a qualquer mudança que possa colocar os seus bebés em perigo.”
ZAP // Science Alert
“De acordo coma hipótese”