Pela primeira vez, astrónomos da Universidade de Columbia, nos EUA, vislumbraram uma grande população de buracos negros escondida no coração da Via Láctea, prevista há muito tempo.
Que há um buraco negro supermassivo, com milhões de vezes a massa do nosso sol, a viver no núcleo da nossa galáxia já sabíamos.
No entanto, a teoria indica que este deve ter vários seguidores, ou seja, diversos buracos negros menores à sua volta. Os cientistas acreditam que esses buracos negros devem afundar no centro de todas as galáxias e acumular-se lá, mas até agora não tinham provas disso.
Usando observações do centro galáctico feitas pelo telescópio Chandra X-ray Observatory da NASA, o novo estudo viu uma dúzia de buracos negros em sistemas binários – ou seja, emparelhados com estrelas – no coração da nossa galáxia.
Um artigo sobre a pesquisa foi publicado na quarta-fera na revista Nature.
Desde os anos 1970, os teóricos que estudam esse processo previram um centro galáctico repleto de milhares de buracos negros. Esses buracos negros devem pesar “apenas” dez a vinte vezes mais do que o nosso sol. Mas tais objetos são tão escuros e inativos que têm sido praticamente indetetáveis.
Usando 12 anos de dados do Chandra X-Ray Observatory, a equipa liderada pelo astrofísico Chuck Hailey finalmente detetou uma dúzia de buracos negros a alguns anos-luz do centro da Via Láctea, ou seja, dentro do alcance gravitacional do buraco negro supermassivo da nossa galáxia.
Se esse parece um número pequeno, os cientistas especulam que a descoberta é o primeiro sinal observacional de uma população maior: com base nas emissões e na distribuição espacial desses 12 sistemas, a equipa estima que 10.000 a 20.000 desses objetos estejam a girar em torno do núcleo da nossa galáxia.
Além disso, encontrar tantos numa região tão pequena é significativo, porque até agora os cientistas só tinham encontrado provas de cerca de 60 buracos negros em toda a Via Láctea, que tem 100.000 anos-luz de diâmetro.
Hailey e a sua equipa usaram dados do Chandra porque os buracos negros no centro da galáxia devem ser mais visíveis através de raios-X, produzidos quando formam um sistema binário com uma estrela de baixa massa e se alimentam dessa companheira.
As camadas externas da estrela acumulam-se do lado de fora do buraco negro num disco em espiral e constantemente brilhante.
Mas as intensas emissões de raios-X desses discos são extremamente fracas quando vistas da vizinhança terrestre. Também se misturam com muitas outras fontes de raios-X do centro galáctico.
Para definir a natureza das suas dúzias de candidatos a equipa de Hailey traçou os picos espectrais e rastreou a sua atividade ao longo do tempo, encontrando padrões consistentes com observações anteriores de emissões binárias de buracos negros noutras partes da galáxia.
Os resultados são promissores, mas, devido ao baixíssimo número total de fotões usados na análise, da dúzia de supostos buracos negros, alguns podem na verdade ser erro estatístico.
Enquanto seis são sem dúvida buracos negros, o comportamento observado nos outros objetos também pode ser explicado como emissões de estrelas de neutrões a girar rapidamente – fenómenos chamados pulsares de milissegundo.
Apesar da incerteza, encontrar provas de um grande número de buracos negros no centro da Via Láctea confirma uma previsão fundamental e importante da dinâmica galáctica.
“Esses objetos também fornecem um laboratório exclusivo para aprender sobre como grandes buracos negros interagem com os pequenos, porque não podemos estudar prontamente esses processos noutras galáxias mais distantes”, explica Hailey.
A descoberta deve ajudar os teóricos a fazer previsões melhores sobre buracos negros e gerar ondas gravitacionais detetáveis. Só recentemente começamos a detetar essas ondulações no espaço-tempo, preditas por Albert Einstein há cerca de um século, e fixar o número de buracos negros no centro de uma galáxia como a Via Láctea é inestimável para calcular a natureza e o número de eventos de ondas gravitacionais esperados nos núcleos de galáxias.
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