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Caviar falso inventado há quase 100 anos pode ser a solução para a poluição por plásticos

Notpla

Uma imitação de caviar inventado na década de 1930 poderá ser a tão aguardada solução para o problema dos plásticos. Quem o diz é Pierre Palsier, CEO da empresa de embalagens Notpla, que afirma ter descoberto uma alternativa barata, feita com algas marinhas.

A Notpla, reconhecida empresa de embalagens, decidiu dar um passo em frente no que toca à sustentabilidade dos seus produtos.

Para tal, criou uma embalagem feita a partir de uma proteína produzida por algas marinhas, que pode ser utilizada para armazenar refrigerantes, fast food, sabonetes, cosméticos, entre outros.

No futuro, terão ainda papel e talheres, feitos a partir do mesmo material.

“As algas marinhas crescem rapidamente e não precisam de água doce, terra ou fertilizantes”, explica Paslier à revista Wired.

“As algas assimilam o carbono presenta na água e tornam as águas circundantes menos ácidas. Algumas espécies de algas marinhas podem crescer até um metro por dia”, acrescenta.

As embalagens produzidas através deste material são totalmente biodegradáveis, um fator decisivo na crise climática que atravessamos neste momento.

Os plásticos comummente utilizados possuem partículas minúsculas conhecidas como microplásticos, que levam centenas, ou mesmo milhares de anos, a decomporem-se em moléculas inofensivas. O uso desenfreado destes plásticos tem afetados os ecossistemas de todo o mundo, em especial nos oceanos.

A poluição por parte dos plásticos está a revelar-se especialmente prejudicial no ambiente marinho, onde pequenas partículas de plásticos podem ser mortais para os microrganismos que constituem o plâncton.

Estes microrganismos tem um papel fundamental na regulação do ambiente, já que sequestram cerca de 30% de todas as nossas emissões de carbono.

Os planos da Notpla para substituir o plástico começaram com um recipiente para bebidas durante as maratonas. Na verdade, não se tratava de um recipiente, mas sim de uma pequena bolsa que pode conter água ou sumo, e que os atletas podem colocar na boca e apenas engolir quando precisam de se reidratar.

Estas bolsas são feitas a partir de um caviar falso, totalmente comestível. “Queríamos criar algo que se parecesse mais com algo natural, uma embalagem que aproxime os clientes da natureza e não de uma linha de produção”, explica Paslier.

Os primeiros testes com as bolsas de caviar tiveram resultados muito positivos. O autor do estudo partilhou inclusive fotografias de duas ruas após uma prova de maratona.

Numa delas o reabastecimento de líquidos era feito através de embalagens de plástico, e na outra era feito através das bolsas comestíveis da Notpla. Como seria de esperar, a primeira rua estava cheia de garrafas de plástico, ao contrário da segunda.

Depois das bolsas comestíveis, a Notpla focou-se no desenvolvimento de recipientes para refeições.

Os recipientes de papelão, muito utilizados na indústria das embalagens, não são o material ideal para acondicionar comida, já que a gordura dos alimentos deixa o papelão encharcado. Por este motivo, o papelão é muitas vezes tratado com polifluorados, também conhecidos como PFAS.

Os PFAS, também conhecidos como “químicos para sempre” são uma classe de substâncias químicas que as empresas utilizam numa variedade de produtos de consumo para torná-los antiaderentes, impermeáveis e resistentes a manchas. Há mais de 9000 produtos químicos diferentes derviados dos PFAS, o que o torna na substância sintética mais fácil de encontrar em todo o mundo.

Através de uma parceria com a empresa de entrega de comida Just Eat, a Notpla foi pioneira na substituição destas embalagens por alternativas sem PFAS.

A alternativa às embalagens proposta pela Notpla tem inúmeras vantagens – não só evita a utilização de derivados de PFAS, como permite facilmente adaptar as atuais fábricas de embalagens para esta nova solução. Ou seja, não há a necessidade de construir novas fábricas de raíz.

Curiosamente, o primeiro plástico, inventado por Alexander Parkes há mais de 100 anos, teve como berço o mesmo local onde se situa a sede da Notpla, na zona este de Londres. Neste momento a empresa está a desenvolver bolsas solúveis para armazenar detergente, gelados e até embalagens para cosméticos.

Segundo Paslier, há ainda muitas algas marinhas por experimentar. “As empresas ainda não perceberam que estamos perante uma solução disponível em grande escala“.

“Ela está na nossa pasta dos dentes, na cerveja, nos produtos que consumimos com baixo teor de gordura, e por aí fora. Ou seja, existe já uma infraestrutura com a qual podemos trabalhar sem ter de construir processos adicionar”, explica o CEO da empresa.

Patrícia Carvalho, ZAP //

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